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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
estava deitada, inerte naquele manto de alcatrão molhado, à minha volta uma multidão transtornada procurava fazer do meu amor "infiel" uma lição para qualquer mulher, que como eu, ousasse amar outra pessoa que não a prometida. estava deitada, prostrada à vergonha da minha cultura, ou à falta dela. nos rostos daqueles juízes sem tribuna estava vincado o horror, a repulsa por ver uma filha do islão conspurcada pela natureza humana.
eu sabia o que a vida me reservara, a pena do meu amor era ódio, violência... e enfim a morte.
Não se demoraram os pontapés no ventre e as pedras no corpo, gestos carregados de infâmia acompanhados de palavras cuspidas de ignomínia profunda, já não era mais do que aquilo que o nascimento me destinara... um objecto.
Dançava, agora, pelo chão qual ignota de uma sociedade sem castas, a dor física já só existia num lugar remoto da minha consciência, os meus olhos, vigias do castigo imoral, fechavam-se a cada penitência até que a exaustão acabou por conduzi-los aos pés empoeirados de uma menina, uma imagem igual à minha, o semblante da ignorância de quem não sabe o que é e o que será.
a morte chegaria em breve, via-a nos olhos da criança e sentia-a no âmago. foi naquele instante de regresso ao tumulto que vi a pedra no meu encalço, a última mensagem criteriosa, a última imagem de um mundo que não me viu nascer e não me iria ver morrer.
em homenagem a todas as mulheres que perecem pela a mão dos verdadeiros infiéis.
com tristeza e vergonha,
PAS
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