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Sexy

por PAS, em 28.06.06

estou no meio da pista, cores dançam agitadas à minha volta e embora emparelhada num invulgar número de pessoas, sinto aquele momento exclusivo... meu! a música envolve-me e sinto-o.
o meu corpo ausenta-se da minha mente, como um objecto autómato mexe-se hipnoticamente ao ritmo das batidas sexys que influem pelas minhas veias. o baixo marca os movimentos daquela presença estranha. danço como a rainha da sexualidade: mexe-se o ventre, as ancas deambulam da esquerda para a direita em movimentos circulatórios, as mãos desenham o meu perfil, como que esculpindo virtualmente o corpo insano, enquanto as roupas sufocam de atracção áquele ritmo louco, quase selvagem... e num momento, como que em slow motion observo a minha mente acopular-se ao meu corpo e uma sensação nevrótica estravassa por todos os meus poros, que de tão eléctricos emanam uma aura invisível aos que desconhecem o nirvana.
sinto-me livre, extática... deixo-me levar pelo som... e sinto-me sexy.

PAS

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estava a passear pelo paredão, diga-se para os que não estão familiarizados com o termo, que é a denominação que os cascaenses dedicam à via pedonal que se prolonga pela costa do sol, banhada pela rebentação das águas de Dezembro e iluminada pelo sol de Julho... mas como aferia, passeava eu pelo paredão, observando a estereoctomia do pavimento e imaginando quantas vidas teriam pisado o mesmo destino, quantas o teriam percorrido pelo instinto do atraso para um encontro, quantas teriam simplesmente dedicado a sua presença ao exercício do jogging ou do walking... quantas teriam, como eu, praticado a faculdade do percurso pelo simples prazer da observação da vida emanescente. apreciar o skyline da vila de Cascais, sentir a presença do turismo ecléctico a cruzar-se com o rudimentarismo, tão nosso, como poético.
caminhei sob a aura de uma nobreza pretérita, os senhores e fidalgos que em tempo tomavam este nosso encanto, como a folga elitista dos afortunados. suspirei mentalmente a evolução, hoje sou plebeia e digna de caminhar sobre aquele chão tão mais nobre que aqueles que se afirmavam ser.
avistei no horizonte os domínios que encerravam o concelho, não me preocupei com o desarranjo urbano, ou a carência de certos atributos dignos de um concelho como o de Cascais. olhei... simplesmente olhei com olhos de ver, aconchegada por um profundo sentimento de paz, respirei fundo para levar comigo um pouco mais daquele segredo e pensei: sim, isto é Cascais.

(crónica escrita para o novo site Cascaisonline.com)

PAS

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Hollywood

por PAS, em 21.06.06

dizia-me um pseudo-conhecido: "há alguma dama ou cavalheiro que tenha a bondade de me auxiliar?", dizia-o de forma ritmada, como o glosar de um musical à mendigagem... mas comecemos pelo princípio.
investia eu pelos eternos corredores e escadas rolantes do metropolitano da Baixa-Chiado, procurava o lugar que acedia à minha longa viagem para a nobre Alvalade. Encontrei-o tão despido de cor como de gente, vislumbrei a poucos metros, quase oculto pela escuridão das sombras, um homem cabisbaixo, brincava com o que parecia ser uma vara (tipo: estão a ver o Dr. House?, era antagónico!)... tive num instante receio pela solidão que nos unia. "eu só com um tarado de vara?" dizia aquele departamento sofrido da minha consciência, entre momentos de confiança exacerbada e teatral. abracei-me.
por motivos superiores à minha homo sapiens sapiens sapienidade a estação pareceu envolver-se numa escuridão, digna de uma ode à obscuridade... tentei convencer-me que o escuro, como o frio e tantas outras coisas estúpidas, era psicológico mas uma vez mais a minha consciência sofrida se manifestou. parecia uma cabala, a escuridão, a ausência humana, a dramatização do homem cabisbaixo de vara em punho... era o destino a dizer-me "baza-baza, vai p'ra casa-casa, abre a pestana-tana, qu'isto aqui não é um filme babe!" - ok a parte do babe não entra na música mas convenhamos que "boy" não se adequa à minha sexualidade!
um ruído estranho ao silêncio wes craveniano, soou e eu que permanecia inerte, freezed qual bloco de gelo branco, pálido (imaginando, claro!, a existência, ainda que rara, de cubos de gelo corados...) estremeci. seria o metro? ou o último, o derradeiro elemento do drama que me levaria à vitimização de um qualquer acto criminoso?
o ruído elevou-se e com ele fez-se luz... era o metro! estava salva!
apressei-me a entrar na barca da salvação, sentei-me naqueles bancos sujos e descascados como se fossem poltronas Divanni & Divanni... pensei quão acolhedor conseguia ser um velho metro, a presença de dezenas de desconhecidos, ser a agulha no palheiro.... hum, era de facto capaz de amar aquelas pessoas... aquele palheiro.
enquanto me enleava com estes pensamentos petrarquistas um bater irritante no chão teimava em assassinar a minha boa disposição. interrompi o meu estado etéreo e voltei-me para identificar o usurpador do momento, quando no meu raio de visão surgiu um homem hirto, de vara na mão e convicto... assustei-me de novo, estaria a ser perseguida? olhei com mais cuidado a personagem assustadora, à espera de identificar o meu quase-talvez-agressor, era alto, e tinha uma expressão estranha... não! ele não tinha uma expressão estranha, ele era cego! e no mesmo momento que a minha agora lívida consciência tomou conta do facto, o desconhecido fez-se ouvir: "há alguma dama ou cavalheiro que tenha a bondade de me auxiliar?"

PAS

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Duas faces simbióticas

por PAS, em 17.06.06

letárgico, sim! como um sono profundo, as pessoas, a vida, causas injustas... eu penso e fico com medo. nada é como parece, tudo é utópico, desconfiável.
julgamos e sofremos, eu sofro na tentativa de julgar correcta e imparcialmente... mas nada é como parece. vida cruel! olha-nos sem clemência - talvez demência - até nos questionarmos. quem sou eu? quem és tu? serei mesmo eu? serei eu outrem? ou NINGUÉM...
letárgico, como um sono profundo. adormecemo-nos naquela que, por ensejo, acreditamos ser a liberdade, ludibriamo-nos com hipóteses de sonho, confiamos nos outros - aqueles que nos prometem o sonho - confiamos na nossa cegueira, no nosso mau instinto e depois... depois sofremos por aqueles a quem confiamos a confiança. ELES. eu sofro-os.
olho o meu reflexo, aquela janela da verdade a quem chamam espelho, e olho-me cegamente, eu confio-me mas a sombra da dúvida paira como o sfumato no quadro espelhado. serei eu mesmo eu? serás tu...?
tenho medo, nada é como parece, eu posso amar-te sem saber... e tu? confio-te a minha ignorância, mas o receio controla a confiança porque eu não sei quem tu és e nada é como parece.

(escrito a 11/97, dedicado à Causa Justa, arranjado a 17 de Junho de 2006)

PAS

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Dança das palavras

por PAS, em 17.06.06

pego na caneta, arrasto-a pelo papel qual dança coreográfica destinada à criação. não são palavras quaisquer que surgem do desígnio, são de léxico redondo e métrica eloquente, pautadas por razões superiores à razão.
não me abstraio de pensar, enquanto a ponta extrema da minha intenção resiste ao lugar comum das palavras... espero o sentido divino em cada gesto, espero o momento em que palavras iludem palavras e realizam acções.
por isso pego na caneta, aquele instrumento solitário, de vida finita... aquele a quem desejo dar o destino que qualquer caneta merece, o destino da obra de arte, do casamento da prosa, do baptismo da folha virgem, da consumação do acto... e ao pensar arranho a tal folha virgem e exprimo o que me traz o âmago à memória.

PAS

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Um quarto de memórias

por PAS, em 13.06.06

Chegado o horizonte
Ponte do sonho /pesadelo,
Fico-me estático sobre pilares de dúvida.
Conta-se sem segredo,
Mas medo,

quem de lá não regressou.
Fico réu, aquele a quem,
no mar de ninguém,

a consciência afirma:
o mundo mudou!

no silêncio, mudo cedo
e experimento a medo,

o chão que o fado me indicou.

(criado em 2002, por moimêmemyself, como diria um nevermind.)

PAS

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Daltonismo

por PAS, em 11.06.06

i am color...blind
coffee black and egg white
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am
taffy stuck, tongue tied
stuttered shook and uptight
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am...fine
i am covered in skin
no one gets to come in
pull me out from inside I am folded, and unfolded, and unfolding
i am
colorblind
coffee black and egg white
pull me out from inside
i am ready
i am ready
i am ready
i am...fine
i am.... fine
i am fine

(colorblind, by the countingcrows)

dizem que o daltonismo atinge só os homens, pois eu vejo muitas mulheres daltónicas deambularem pela vida como representantes de um pantone de cores. mulheres que não sabem amar o que têm, não sabem dar valor ao que têm e depois... não sabem perder o que tiveram.
triste. triste história... é depois dizerem: "como fui tão cega"... blind, eu diria mesmo colorblind.

PAS

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Panaceias

por PAS, em 10.06.06

é enquanto prostrados numa cama, que sentimos o peso da energia que reside em nós... quando ela se esvai, qual amor desenamorado, e uma dor profunda enterra-se nos nossos pontos chacras e contorcemo-nos, arrepiamo-nos, sentimo-nos ensandecer.
tomamos a panaceia, a esperança, por momentos pouco lúcidos, reside naquele pequeno volume geométrico, de atributos anónimos ao nosso padecimento, e quando a dor se ausenta e a convalescença se apronta, amamos a panaceia como um deus, que nos perdoou os pecados que não recordamos.
viramos fãs, gritamos no meio da multidão o seu nome, exibimos cartazes de apoio e juramos que reside ali a salvação, "pois nós fomos salvos" dizemos com convicção.
- assim reside a fé do povo, seja ele ecléctico, divino, elitista, pobre ou média-classe - quem sabe média gama! - basta uma panaceia, uma palavra, um credo, para que as mentes hipnóticas que "sensivelmente" tratamos se quedam por um conto de fadas, que a existir reside apenas nas mentes de quem veste a pele das personagens.

PAS

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Encontro imediato

por PAS, em 06.06.06

não me esqueci de ti.
contei ser dona de um estar
que calasse esta dor em mim...
e não consegui.
não! Não me esqueci de ti.

como um poeta quedado na dor,
ignorei tudo menos palavras e escrevi,
as tuas sombras, as tuas pegadas, o teu calor.
não me esqueci de ti.
vives no epicentro da minha consciência sísmica,
fazes-me olvidar palavras e falar por mímica.
por tudo o que escrevi, vivi e vi...
como posso eu me esquecer de ti?

PAS

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Golpe de teatro

por PAS, em 02.06.06

atravesso o umbral da velha porta do drama, as luzes tocam na sala quais dedos de sol, subtraindo à sala vazia o domínio das sombras, vestindo o espaço despido de presença.
não estranho a ausência humana... o espectáculo foi tristemente alienado pelas audiências do pseudismo cultural. preencho cada cadeira abandonada com um pensamento na esperança de ver devolvido o investimento.
sento-me. estou emparelhada pelo vazio, à esquerda imagino-o de expressão carregada, pensativa como que a perscrutar um folíolo com o exórdio da peça. à direita acompanha-me um vazio boémio. descontraído na pose como na vida, sem esperanças por simples falta de consciência, aguarda o iniciar da peça, como espera pelo iniciar da sua própria vida.
fecho os olhos. já não resta muito tempo, ele rouba-me os minutos. reabro os olhos e vejo as luzes a esmorecerem, o meu coração acelera, ouço as pancadas na velha madeira do palco plagiante da vida e sinto o remexer das cortinas qual composição musical. elevam-se e com elas elevo-me eu. acabou o sonho, começa o drama e sem sentir tristeza pela perda, invisto num novo sonho e parto.

PAS

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