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voyeur assim...

por PAS, em 27.11.06

ao vê-la adormecida, inerte nos sentidos,
recordei contos lidos de uma esquecida infância,
senti um aperto no peito, pela ignorância
de ver passar o tempo por meios indevidos.

é ao vê-la prostrada ao sono da idade
que me urge a saudade de a ver senhora das horas.
e perguntam-me, os que me vêem: "porque choras?"
- a luz do dia esvai-se sem demoras.
resto eu e a nostalgia, memórias de mocidade...

foi numa longa tarde soalheira, em tons de rosa-carmim,
que descobri este triste fado em mim.

PAS

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é cada vez mais habitual encontrarmos novas formas de apresentação do léxico português. a criatividade lusitana, ao que parece, não se esgota na procura de artifícios para contornar leis ou parceiros, encontra sempre novos desafios... (nem vou questionar a validade dos mesmos. para quê?)pois deparou-se a língua portuguesa com um registo incomensurável de novos adeptos extremamente criativos e, porque não dizê-lo, sinistros. o objectivo - depreendo - será a transformação progressiva da nossa língua em mais um fantástico recorde do Guiness Book of Records, a marca a almejar é de língua mais complexa do mundo. o timing é perfeito, enquanto os russos se preocupam com a Tchetchénia e a Ucrânia, os chineses com a sua crescente economia e a gripe das aves, outros com assuntos mundanos como as armas nucleares, o efeito estufa, as energias renováveis, o aumento do petróleo... nós sub-repticiamente lá vamos conquistando o nosso lugar de incompreensíveis (literalmente).ora vejamos alguns casos:

póssamos: com origem no verbo poder, teve como base a sua derivação "possamos". como justificar a alteração? ao que parece a conjugação original era algo insípida, com falta de ritmo... os nosso caros conterrâneos, numa atitude quase minimal, adicionaram-lhe um acento transformando a palavra numa perfeita esdrúxula... fantástica intervenção, uma arte!alguns numa atitude considerada exacerbada, quiseram ainda resumi-la a uma formação simples: póssa-mos, sem dúvida alegórica mas ainda com parcos fundamentos para existir.
outros verbos estão a conciliar esta nova frente criativa e a aderir ás novas e alegóricas, conjugações.

hádem: esta derivação é sem dúvida a coroa de glória dos novos vocábulos, com base no verbo haver e na sua derivação "hão-de", várias foram as discussões entre as mais altas instâncias, no que concerne à língua portuguesa, e determinou-se a atribuição de uma conotação mais intelectual do que um mero latir de cão (hão) ao verbo. a pesquisa levou-nos à mitologia grega nomeadamente ao deus grego do inferno, Hades... um verbo com uma base histórica é uma raridade, logo, foi de comum acordo que se estabeleceu que esta nova conjugação traria não só suspiros de intelectualidade a um povo caracterizado pela sua incongruência, como seria uma obra dedicada à antiguidade. Hadém, "vai buscar!"

mais grande: este é um caso muito simples de minimalismo e facilidade de ensino, ora se já existe um adjectivo "grande", inclusive proveniente do latim grande, para quê estar a criar uma palavra para caracterizar algo de tamanho superior em relação ao que já é grande? esta questão levantada pelos novos senhores da nossa língua tem imensa propriedade. defende alguma nata da sociedade que "maior" por também ter bases no latim (maiore) é um adjectivo de valor equivalente ao grande, mas os novos "fidalgos-linguísticos" contrapõem que seria mais apropriado seguirmos uma linha germânica e atribuirmos mais sílabas ás palavras, i.e maisgrande ou mais-grande ao invés da simplicidade bacoca do "maior"; estas serão evoluções previsíveis do léxico português que por enquanto se mantém dividido entre o maior e mais grande.

após esta breve nota sobre os laivos criativos da nova génese portuguesa, espero ter contribuído para uma melhor relação com uma língua cada vez mais complexa na forma e na comprrehensione.

PAS

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viva!, algo perdido e desencontrado de tão só e sóbrio. a sua respiração tímida, entrecortada por delinquentes perfumes de maresia, transportam-me, juíza, à compaixão pela santa pobreza, digna por auto-flagelo, da hipotética porta de entrada à terra de Santa Maria de Belém.
passam cacilheiros, transeuntes, gentes de bulício, por aquela estação de isolamento... sinto-me constrangida de tão só que se me apresenta a dignitária! quase tão obsoleta quanto o regime que a fez nascer.
cruzam-se comigo sobre a pressão da clepsidra laboral, sem despeito pela arquitectura, peões da Trafaria ou Porto Brandão. quem sabe ela seja tão indiferente de concludente, que nada representa, nada consubstancia?
rejeito a ideia de que tal arquitectura seja apenas a obra "apoética" de um combinado estatal; não foi também a Estação Fluvial de Alcântara vítima de um processo, em vaga, de melhoramentos das condições de trânsito?, conta ,no entanto, a mesma com o apadrinhar generoso de Almada Negreiros. porque não vivo eu a presença de alguém?, porque será esta estação tão fria?
promovo na minha mente a equação que levara o pretérito Arqº Frederico Cardoso de Carvalho, assim como ao confrade Engº Duarte Pacheco - senhorial ministro das obras públicas - a executar uma obra tão pouco pública. por que razão intenções tão camuflatárias teriam sido adoptadas num círculo de património tão concerne à nossa grandeza lusitana?
sento-me enquanto me distraio na congeminação dos factos... aquele telhado de duas águas, aquela pseudo-torre de ambições a faroleiras, à qual o tempo roubou o fardo; aquelas janelas de enclausura que absorvem a alma de tanto sufocarem a presença. retraio-me com um novo plot, talvez a ideia de tão célere projecto - como foi o habitar da costa com monumentos fluviais - se manifestasse pela experiência negativa do transeunte antes da viagem epopeica à realidade adjacente.

os cacilheiros passam, assim como as pessoas e o tempo, uns de destino a Lisboa, outras a menos ambicionadas viagens, nenhuma com este destino.

desisto da ideia de me transformar amorfa para agradar à condição da estação em estudo, liberto-me temporariamente da posição expectante e procuro a origem das sombras que tornavam o meu objecto tão na pas de quoi. à direita encontro o Museu da Electricidade, antiga central tejo, em tempos o locci mais iluminado de Olisipo, hoje um imponente edifício cuja erosão tem vencido com o brio da elegância britânica.
à esquerda avisto ao longe, quase que em horizonte de memória, o Padrão dos Descobrimentos, uma imagem irreal naquele desplante de vazio arquitectónico. volto a questionar a razão da estação. começo a caminhar deixando em rasto segundos de afastamento daquele elemento fluvial tão dúbio, sinto-me envolvida pelas árvores, pela sombra que elas respiram, a batalha interior que me conduzia fugia-me em espiral... uma amnésia abençoada liberta-me da repressão ideológica e compreendo finalmente a origem daquela criação, a sua razão, o seu esquecimento em presença e vivência... eram as árvores, as árvores do olvidar, elas transformavam o espaço, elas cortavam os laços, a simbiose... escondiam o objecto da conjuntura urbana.
regressei num impulso à Estação Fluvial, ela ali estava, de fundo soava abafado, pelo som daquelas árvores quebrantes, o comboio, chamando passageiros em sofreguidão. eu associei no imediato aquela voz à condição da estação marítima... aquela rectidão, aquele desprezo pela agradabilidade, constrangeu-me. de repente apetecia-me mudá-la, pegar nos volumes funcionais e "afuncioná-los", construir uma barreira de criatividade e destruir a doutrina da opressão - a palavra ditadura assolou demasiadas vezes a minha mente. era isso que ela representava, uma súbdita de um idealismo ultrapassado e industrializado e eu não podia fazer nada, a sua existência seria sempre aquela monotonia apaisanada, sem momentos.
desisti. aquele objecto de estudo não era o meu objecto, era o objecto de ninguém. e foi assim que o deixei, no crepúsculo, enquanto me cruzava com os passageiros, os transeuntes...

in Estação Fluvial de Belém


PAS
(escrito em 2000, arranjado em 2006)

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Submissão

por PAS, em 08.11.06

à coisa de uma semana... celebrou-se - provavelmente apenas entre os lobos maus do islamismo - o segundo aniversário da morte de Theo Van Gogh, que, se bem se recordam, foi assassinado por um manifesto aborto humano, de convicções religiosas distorcidas. lembro agora a curta-metragem "submissão" que, ao que tudo indica o terá submetido ao desígnio da morte. mas mais importante que isso lembra hoje o mesmo que "ontem", que vivemos num mundo subvertido por homens mascarados, cujo os ideais remetem a mulher a um papel de adorno e por conseguinte supérfluo, descartável, inútil... ok! paro por aqui.



aproveito o contexto para assinalar a magnífica celebração da festa "cartooniana" em Teerão, onde se elegeram os melhores cartoons alusivos à descriminação judaica e ao flagelo "encenado" do holocausto... ora viva a dualidade de critérios! viva a liberdade de expressão.

PAS

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