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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
não tenho por costume endeusar personalidades, mas este caso afigura-se-me como uma excepção, certamente, a esta hora, qualquer pessoa com acesso aos meios de informação saberá da morte de Michael Jackson, ou MJ, ou King of Pop, ou Moonwalker… para uns, uma morte precoce, para outros, menos empáticos, apenas a confirmação física da morte artística ocorrida há alguns anos. eu enquadro-me no grupo dos que sentem esta ocorrência como um acontecimento precoce… é sempre cedo demais quando nos levam um ícone, um génio, um evolucionista.
tomamos real dimensão dos factos, quando afiguramos o quão improvável será experimentar uma revolução tão pertinente na história da música, como a que Michael Jackson operou com o seu álbum Thriller, talvez os meus pais tenham dito o mesmo de Elvis, e os meus avós de Armstrong. a cultura musical de hoje não se assemelha em nada a outrora, a espontaneidade, a dedicação à música pela música e não ao proveito comercial… o vestir de uma personagem quase fantástica, como símbolo de um momento musical irrepetível. só um artista hoje consegue proporcionar um espectáculo, digno dos de Michael e outros que o tempo se encarregou de esquecer… Madonna, curiosamente também ela apelidada de realeza do pop.
como disse ao iniciar este momentum ao perecido Michael Jackson, não tenho o costume de endeusar personalidades, mas de facto o título de Rei do Pop, soa estranho e incongruente, um rei tem sempre sucessor e o mais novo dos Jackson 5 não tem e dificilmente terá um artista à sua altura. Michael, para mim, não é o rei, é sim deus do pop.
brindou-nos com 50 anos da sua presença, escapou-se da mesma forma que chegou à música, cedo demais, que descanse, agora, em paz…
29 de Agosto de 1958 a 25 de Junho de 2009
“And I remember going to the record studio and there was a park across the street and I'd see all the children playing and I would cry because it would make me sad that I would have to work instead.” Michael Jackson
“I was a veteran, before I was a teenager.” Michael Jackson
PAS
água fria envolve-me os pés, sinto os ossos quebrarem, não demoro muito a encontrar-te com os olhos, observo-te de longe, envolvida pelo mar, um espaço que de tão vasto parece um vazio, um vazio cheio de drama. tu não te atemorizas. soltas a dor e a revolta sob as ondas, deixas as lágrimas escorrerem na imensidão e imiscuírem-se na profusão de água salgada. estou longe mas sinto a tua dor, é tão real que esmaga qualquer outro sentido. qual coreografia vejo-te subir e descer no mar revolto, uma dança de cumplicidade com o etéreo, segues, hipnotizada, as ondas que te levam para longe de mim, para longe da existência. entro em pânico, sei que as minhas forças são insignificantes face ao poder de Tristão. sinto uma dor no estômago, qual murro voluntário do destino, o significado é avassalador: vais perdê-la!
olho à volta em desespero à procura de uma ferramenta divina, existia eu… apenas eu, contra a vontade do mar e do destino. levanto os braços e grito, o som parece abafado pela água, giro sobre mim à procura de um sinal de esperança, as formas vão-se extinguindo com a dança desnorteada… pensei: leva-me a mim também.
entre a incoerência dos pensamentos e a exaustão emocional, ouço uma voz ao meu lado, chamava aos ventos uma estrela diurna, que se movia graciosamente entre a ondulação, vi a estrela transformar-se num homem à medida que a clareza me assolava o espírito, dirigia-se agora a ela, estavam os dois tão longe quanto o desespero permitia, mas senti por fim a esperança a chegar. não consegui ver os seus olhos mas pressenti um misto incongruente de alívio e frustração. eu senti tão-somente paz. ela regressaria… para não mais partir. a água continuou fria.
PAS
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