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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
não é a primeira vez que me surge esta ideia enquanto examino um dos espaços vazios do Sudoku. aquele metodismo, a alienação, faz-me sentir como Simon no filme Mercury Rising... dou por mim a balouçar o corpo para a frente e para trás como se na cadência encontrasse o rumo para a solução do puzzle. é uma forma de Autismo, talvez lhe deva chamar autismo temporário, como a amnésia, serve apenas aqueles breves momentos de indefinição ou suspeição, obliterando-se com o ressurgimento da verdadeira face.
o vazio criativo é uma penitência difícil de suprir. para quem está a habituado a romantizar tudo o que vê, tudo o que cheira, tudo o que toca e ouve, torna-se quase obsoleto viver. o mundo toma a forma vulgar de um qualquer desenho técnico por renderizar, sem arte ou qualquer manifestação apreciativa.
percorro, de momento, o meu próprio deserto, sem vislumbrar um sinal que me indique novo destino. limito-me a seguir as raízes de vazio que o tempo seco de ideias criou no solo da minha existência. a aridez da minha mente nem a sede de criar provoca no meu âmago. estou prostrada a uma não-existência.
é uma penitência difícil de suprir, viver sem a poesia da criação, tudo se apresenta cinzento, neutro, consternado, condicionado… uma tela sem a explosão de sentidos que o momento divino da arte promete. observo, abnegada, à manifestação de outras mentes e sinto-me vulgar.
olho para os meus dedos, continuam iguais, com as mesmas imperfeições, o mesmo tacto, questiono se também eles sentem, de forma autónoma, a falta do bater inesperado mas tão coerente no teclado, ou da fluidez intimista da caneta entre os dedos numa dança de sedução; do pincel hirto sobre uma parcela branca de mundo por criar.
hoje sinto-me perdida de tacto… um vulto entre tantas outras sombras que percorrem a estrada da rotina, e pergunto-me, “estarei morta ou apenas adormecida?”
PAS
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