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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
(por razões que eu própria não reconheço vou hoje - quiçá amanhã também – abandonar o minimalismo caligráfico, já que me andam a chatear estas frases sem indícios de começo.)
Não é sem a angústia de um primeiro amor que se relê uma história, ainda que mascarada pelos sorrisos que a puerilidade do acto faz por entranhar. Estes momentos, tão ímpares, são ainda de maior valor quando se encontra no intervalo de tempo lacunas de épocas – gerações até – quando assim é lembra o espírito a própria juventude e não apenas a da leitura. Há quem tenha no acto da literatura um prazer ocioso, outros um manifestar supremo... assumido apenas pela arte de quem lê, mas raramente associado aos que praticam a releitura, pois não fosse eu tão grande fã da ciência, de facto, esclareço que me revejo infinitamente mais na arte de reler que na de ler... e se gosto eu desse pecado, aquele desfolhar virginal, o primeiro contacto com as imaculadas, diáfanas páginas brancas ritmadas somente pelo titubear maquinal de letras impressas ao sabor da mente do artista. Mas nada se compara ao reviver de paixões e relembrar sentimentos, sonhos que a história quis que ficassem anexas àqueles contos de prazer, sensibilização ou tristeza. Acercam-me à mente as joviais descrições de Júlio Dinis, o qual tive prazer de reconhecer pela enésima vez há dias, a maratona histórica de Leon Uris, que ainda hoje me altera o ânimo... a arte de escrita de Gabriel Garcia Marquez onde apenas cem anos de solidão poderiam acalentar o mais ambicioso dos aspirantes a romancista, e por ai podia eu cansar-me não fossem muitas as viagens que a literatura me concedesse.
Todo este inflamar da alma e tão só por um motivo, a maravilhosa consciência de que não só a ciência dos microscópios e dos teoremas matemáticos pode auspiciar conceder ao homem conhecimentos de outra índole, de outra dimensão, pois o mais leigo dos homens, o mais pobre dos seres, a mais triste das existências pode encontrar num folhear outro mundo, outra realidade, outra vontade. E no refolhar reencontrar esses sentimentos, esses estares.
Tenho com isto a dizer que não existe maior encanto que encostar as inquietações, pegar naquele exemplar macilento e degradado e passar a vista pelo tempo. Que um deus qualquer abençoe quem de direito.
PAS
Apesar de ter sido narrado por mim, naquele estilo inconfundivelmente "fixe" , este texto relata o incidente de alguém que me fez sentir ultrajada:
Gripe sem A
Gostava de expor o meu desagrado pela conduta dos responsáveis médicos face à gripe A, depois de inicialmente se ter observado um empolar da crise epidémica, com poucos contornos de epidemia, os meses passaram e a preocupação pareceu passar juntamente com eles. Tive oportunidade de testemunhar em primeira-mão a falta de respeito dos agentes médicos a possíveis casos de gripe A, casos bem mais reais que as supérfluas demonstrações epidémicas do Verão passado. Passo a explicar:
O meu filho apareceu em casa com fortes sintomas de gripe A, ao que respondi telefonando de imediato para a linha Saúde 24, como indicado pelos meios de comunicação, durante a conversa foi-me transmitido que face aos sintomas descritos devia dirigir-me ao SAP da Venda Nova. Não demorei a dirigir-me ao local consciente das dificuldades pelas quais o meu filho passava e pelas suspeitas fomentadas pela sua condição. Ao chegar ao local deparei-me com a negação tácita de auxílio médico por parte de um segurança, a razão parecia residir no facto de apenas as pessoas com senhas terem “direito” a acompanhamento médico, de permeio, entre um estado de incredibilidade e exasperação, foi-me comunicado que a solução passava por me dirigir juntamente com o meu filho enfermo ao hospital. Não fiquei satisfeita, mais uma vez o serviço nacional de saúde mostrava a sua falta de competência e diligência. Desloquei-me novamente, desta vez em direcção ao Hospital Amadora-Sintra, ainda e sempre com o meu filho doente e febril. Passei pela triagem e descrevi novamente os sintomas de gripe A ao funcionário de serviço, pediram-me para aguardar e eu aguardei juntamente com o meu filho doente com 39,5º de febre, sentada no chão, face à falta de bancos. Esperei não uma hora, não duas, nem três... mas sete horas até me ser concedida a atenção requerida, o meu filho já mal se aguentava sentado, acompanhei o médico a um gabinete para finalmente me serem confirmados ou negados os receios que suspeitava, afinal o vírus H1N1 era letal, como demonstrara recentemente a morte de uma criança poucos anos mais nova que o meu filho. A resposta, no entanto, foi tudo menos a que qualquer pessoa poderia esperar, foi-me comunicado que os hospitais já não realizavam testes de despistagem para o vírus e que dessa forma seria impossível confirmar que doença tinha, se a gripe sazonal, se a gripe A, receitaram os já comuns medicamentos para combater a gripe e pediram-me que colocasse o meu filho em quarentena. Fiquei sem palavras, sai do hospital tão despida de respostas quanto chegara, não sabia se o meu filho tinha a mortal gripe A ou a plebeia gripe sazonal, o que comunicaria à escola que frequentava? E todos os membros da família que tinham estado com ele? Deveria eu aconselhá-los a tomar Tamiflu? O que deveria eu fazer para além de isolar o meu filho do mundo por razões não explicitas ou justificadas?
Não será de todo desproporcionado condenar toda a organização de saúde – ou falta dela – que durante meses procurou criar um clima de alerta face à gripe A, a criar um clima de pânico desmesurado, a dar um sem número de conferências de esclarecimento e indicações processuais de como evitar o contágio e consequentemente a epidemia, e no final, a doença tão temida pelas autoridades era tratada com a mesma displicência que uma dor nas costas.
Não espero com isto que todo o sistema se revolucione, não depois de anos, décadas, de marasmo e sistemáticas indicações de incompetência, mas quem sabe, talvez o meu testemunho se junte ao de muitos outros e dessa forma se desmascare as falsas pretensões de um serviço de saúde competente.
De uma utente,
PAS
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