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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
Faz muito tempo desde que sinto uma angústia tão exorcizante sem que lhe esteja inerente motivos pessoais. Sinto um rebuliço no estômago, um aperto no peito, a respiração entrecortada, uma revolta... ah uma revolta!, camuflada pela necessidade de manter diante de meus pares a compostura que a sociedade exige! A mesma sociedade que evoca em mim estes demónios.
Para aqueles que como eu, sucumbem ao desânimo por doença de espírito é infinitamente doloroso viver num país que perdura no caos. Visto este hábito todos os dias, querendo sem poder, tentando sem fazer... é uma utopia degradante que se ajusta apenas e somente a um povo velho e cansado... não, exausto! Fumigado pelo fumo criado pelas constantes promessas de um sonho que apenas assume contornos de pesadelo e que se vai montando qual puzzle a cada anno domini.
A ambição que faz de outros a vanguarda e o futuro, resume-se, neste país de muita semântica e pouco lavor, a um simples desejo de no final do mês ter a habilidade de cobrir as dívidas que a própria existência produziu. Um povo prostrado a cobrir as exigências de um mundo capitalizado, onde o dinheiro dita a lei vida.
Sou leitora e escritora de narrativas criticas e ditames, e estou cansada! Neste país de horizontes curtos e mentalidades moldadas à estagnação e à subserviência, onde somente dedos se erguem em acusação, o tempo passa e nada acontece. Caem ideais, fingem-se estares, morrem projecções, nascem mentiras... tudo escrito, tudo acusado, e nada feito. Critica-se depois a chico-espertiçe daqueles que na apatia fazem por viver a vida sobre parâmetros diferentes daqueles estabelecidos mas irreconhecíveis. São tão só reproduções de uma sociedade em decadência de valores e existência.
Numa terra sem Rei nem Roque, somos como peões dados a comer para que aqueles mascarados de rainha e súbditos subtraíam os últimos resquícios de riqueza moral e histórica, vendendo depois cópias corrompidas pelo amor à pátria e sentido de estado... Sou o espelho desta república e reprovo tudo nela! Os maneirismos, a critica, a hipocrisia, a farsa escondida por trás de ideologias e demagogias que representam nada mais que areia para os olhos daqueles que não o sabem. Os socialismos ignóbeis, a pseudo-democracia, a liberdade fingida, a celeuma comunista, que mais não é que um parasita entranhado num momento de fraqueza do homem e da lógica, que por razões meramente masoquistas perdura. O liberalismo... esse golpe de vista a querer fingir aos ingénuos uma liberdade impossível de concretizar. Ah... houvesse uma borracha cósmica... houvesse uma pena incauta, capaz de reescrever a humanidade sob o signo da própria existência. Seria diferente? Somos nós uma espécie imberbe sem noções claras sobre o nosso papel no universo, qual criança mimada ego centrista, preocupada somente na visão unitária das coisas?, Ou seremos nós uma espécie velha e decadente, oca de valores, sem sentido de existência, morta pela soberania depravada e ambição desmesurada?
Sou o espelho da minha república, quero fazer e não faço, vivo na mentira e omito, acuso a sombra de quem sei culpado, vejo fugir a moral e não agarro. Sou o espelho da minha república, fraca, triste e prostrada... uma amostra de pátria. Portugal, que futuro nos separa?
PAS
Há situações que só uma urbe em conflito, um Governo de Ardina, e uma depressão assimilada pelos andores acomodados, permitem. Situações, que outrora, em momentos de paz de espírito, levariam a uma abordagem critica, senão visceral, sobre o estado das coisas. Hoje porém resumem-se a pedaços extemporâneos de comédia, momentos reais gravados em papel de jornal (pasquim), que a descrença generalizada transforma em quadros surrealistas, para apreciar e gargalhar de permeio a um copo de vinho tinto, de mesa (porque do bom não há dinheiro), e um tremoço pálido.
Sim, é assim que vejo o “estado” de certas coisas, não porque estou sentada à mesa de um botequim, de ar opiáceo – resultado de um jarro de barro envelhecido vazo de uma sangria tinta, de frutas de verão – mas antes por obra de uma parangona em corpo 30 descoberta no decurso de um acto de exploração internética aos diários da república (sem qualquer relação com aquele role de portarias destinado a porteiros de linguagem comum). Diz a mesma, inserida no contexto justiça (a ironia do jornalismo): “Sintra. Presos em greve de fome querem Playstation”, in Jornal I
Ora consta que cerca de 10% da população total do sobrelotado estabelecimento prisional tenha requerido uma melhoria substancial na alimentação, visto que o bife de frango com puré não se coadunaria com a bitola dos mesmos... recomendo como resposta, a esta legitima queixa, a passagem regular de um qualquer Jamie Oliver, ou Nigella, pela copa da prisão, na impossibilidade de tal banalidade aconselho um serviço à lá carte a combinar com um arauto da Michelin Cuisine.
Já quanto à conquista da Playstation 2 – sim, eles até foram humildes e pediram a versão anterior à actualmente comercializada – eu aconselho vivamente uma resposta afirmativa, afinal há demasiada putrefacção nas prisões, entre os que são mortos e os que só têm “tempos mortos” não há lugar para muito mais senão... morte! Por isso, é deixá-los descarregar a Testosterona num qualquer grupo de polícias que agora circulam naqueles jogos “supé” didácticos que circulam pela modernidade e que incentivam a assunção de uma carreira na orla do narcotráfico, furto e quiçá assassínio.
Há situações que só uma urbe em conflito permite uma reacção apática. Que permite que um indivíduo sentado a escravizar as horas de existência por um mísero sustento, veja outros, dissidentes, a demandarem sem retorno a qualidade de vida que não tem, e esboce um sorriso, qual resposta a uma comédia do destino!
PAS
Observo à distância uma sombra sentada, inerte, como que concentrada na análise de um qualquer ponto distante, fonte da criação e do engenho da mente, tento imaginar o que lhe assola a mente, mas a escuridão da forma impede-me de ler a expressão capaz de revelar o som do seu âmago. Imagino, portanto, que a par do meu – âmago – uma angústia colérica motive um olhar infiel à condição jubile, e contorne sobre a forma de pesadas rugas de raiva o ódio pelo ser distinto. Sim ódio... porque há dias que odeio, tudo e todos, e quiçá também aquela sombra indistinta seja minha parceira nesse inferno, quiçá... a verdade é que a odeio também, odeio aquela pose quieta qual sintoma de paz de espírito e juízo, o olhar prostrado num horizonte que não vejo, a forma de contornos perfeitos na cal branca que a noite não esconde. Odeio a sua não identidade, o alvitrar de presença sem peso nem conta sobre a escuridão, numa comunhão que parece segredo marital entre forma e espaço. Odeio que saiba mais do que eu... mesmo não sabendo tanto quanto eu; é mais uma existência que me parece suprir de objectividade, mais uma chaga que me senta na vacuidade da existência. Porque razão odeio? Porque razão abomino tudo o que vejo?
Levanto-me da minha janela indiscreta e tento revelar a origem da sombra, na esperança de com ela seduzir as respostas que me carecem. Ergo-me e a sombra mexe-se, terá sentido a minha atenção? Inclino-me sobre o vão perseguindo a sombra em fuga, mas ela não fugia ela vinha ao meu encontro. Reentro no meu quarto, espaço de condenação, e vejo a sombra a acompanhar-me até jazer à minha frente qual pedaço da minha alma. Arfei por vários segundos e incrédula afirmei: Aquela sombra sou eu!
Porque razão odeio? Porque me odeio.
PAS
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