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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
Sujaram-me hoje a face de dissimulação. Esperei, no seio da boa vontade e empatia, reservar juízos de valor e dar o benefício da dúvida a quem por repetidas vezes demonstrara não o merecer. Sob a sombra da perda e da memória de quem fora casta e diáfana ousei sonhar em descobrir a outra face de uma lua eternamente escondida na obscuridade. Pecado meu.
Sujaram-me a face de dissimulação... reservei na mente o acto e lavei a mesma face na água santa que a recordação de um anjo soube criar. E se o espinho da falsidade não me impediu de seguir o rumo que me destina, sem causar cancro na alma, já a ausência de pudor sobre a memória da mesma santa finca-se-me repetidamente no âmago, qual exercício repetido de uma navalha, de desonestidade e avareza, contra a forma da inocência. Pecado meu?
Sujaram-me a face, e por mais que a lave no esoterismo da minha crença, sinto-a marcada pelo desgosto e pelo desencanto. Sangue do meu sangue, pecado do meu pecado? Escrevo mil vezes uma calúnia para lutar contra o meu desamparo emocional. Sujas, lavadas, as feridas moram cá, sem argumento que oblitere o efeito cáustico e agnóstico que me circula pelas veias como veneno.
Revejo-me, qual idiota do pensamento, a tentar estudar os efeitos e pseudo-efeitos que outros contextos teriam permitido: um momento de catarse negativa, que fizesse cair uma caraça de traços tão perfeitos que me estupidificasse perante tão mor surpresa; se a triste realidade de conhecer os contornos de uma face hipócrita e permitir-me a sujeição a mais uma deselegância, a um engodo. Pecado meu concerteza.
Sujaram-me hoje a face de dissimulação e eu deixei.
PAS
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