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Politica e Público

por PAS, em 24.02.11

Na minha pesquisa matinal pela world wide web encontrei uma premissa que parece tirada a preceito para o meu país: 

 

“If you have selfish, ignorant citizens, you’re gonna get selfish, ignorant leaders. So maybe it’s not the politicians who suck. Maybe something else sucks around here. Like… the public.”

 

George Carlin, um dos grandes comentadores politicos do nosso tempo.

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Desterra

por PAS, em 23.02.11

Gigantes falos de cimento apontam aos céus

Soltando nuvens de cinzento sobre um mar azul.

Serpentes de metal ejaculam pecados em detritos,

Sobre as águas da vida, sem a advertência de mal.

Árvores, socráticas, convidadas pelo vento a dançarem

Caem, desmaiadas, aos pés da ignorância humana.

Animais atravessam desertos, pântanos, lagos

À procura dum sinal divino que lhes diga onde parar.

Raízes de vazio em contínuo rasgam solos de seca,

Sem oásis no horizonte. Uma gota de água que console.

Campos de verde esperança, esmagam-se sob o pé nu

Da displicência. Da sobranceria humana. Do desrespeito.

Crianças choram, gritos mudos, de braços caídos,

Derrotadas por um horror de infância, fome e sede.

Um saco branco de plástico voa sem destino pela rua,

Qual símbolo de uma paz triste e de uma vida nua.

Matam. Torturam. Contaminam o futuro sem pensar

E ainda exploram a história para mais tarde recordar.

E nós e os nossos filhos? Ninguém quer saber?

Cuidar da vida, mais do que um direito é um dever.

 

PAS

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Ironias

por PAS, em 23.02.11

A vida tem um quê de ironia.

Sem ter que se explicar, aplica golpes violentos ao destino, capaz de fazer duvidar a mais certa das almas.

E sob o mantra da escolha e do gesto humano limita-se a assistir ao desenrolar de um filme tantas vezes repetido e mais vezes ainda apagado.

A vida tem um quê de ironia, mas há vidas que são mais vidas que outras. Como este caso:

 


 

Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor

O fotógrafo sucumbiu ao arrependimento e suicidou-se. A opinião pública crucificou Kevin Carter, mas, 18 anos volvidos, sabe-se que a criança que parece prestar-se a servir de pasto ao abutre sobreviveu à fome e à guerra no Sudão.


Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos de sempre, com um "frame" icónico, um retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer.


 

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Falsa Poesia

por PAS, em 22.02.11

Escrevo para nada.

Escrevo para ninguém.

Deixo a pena correr pelo destino

Sem a chaga de um vintém.

Escrevo de revolta.

Escrevo sem sabor.

Não confio à mente próxima

Mais que um prenúncio de dor.

Escrevo para mim? Talvez.

Afinal sou quem sente o crivo

Que a pena sobre o papel fez.

Escrevo... Escrevo o vazio.

Palavras desconexas em rima

À procura de um corpo que ruiu.

Escrevo o nada.

E escrevo ninguém.

Pois nada é mais meu semelhante

Que a ausência de ser alguém.

Sobram estrofes de carisma,

Poucas que poucos entendem,

Suficientes para serem o sofisma

Para o falso poema. Amén.

 

PAS

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Adagio senza fine

por PAS, em 21.02.11

Eras encanto.

Singelas pernas, arqueadas

E tronco curvo bamboleante,

Teus pequenos braços, estendidos,

Pediam sempre o meu encontro.

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras coragem.

De cabelos ruivos, pelos ombros,

Beijavas flores, azedas, pela pradaria

Contavas entre perigos sui generis

Conquistas que o tempo fingia.

O teu amor, infância, era abandono.

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras drama. Eras fantasia.

A criança boleima virara alta e esguia.

Escrevia de letra e alma inocente

A dor que um tal de poeta carpia.

Ah jovem, filha de Eva e da serpente!

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras tristeza.

Cabeça queda a sonhar bizarria

Perderas a eloquência e a companhia.

Arrastaras pelos pés pesadelos

Que a mocidade confusa te devia.

E hoje sonhos? São noites sem vê-los.

Souberas tu da tua vida.

 

Eras tudo isso, serás tudo mais

O passado escreveu uma história

Caberá um final diferente aos demais.

 

PAS

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Se um dia...

por PAS, em 18.02.11

Se um dia... nesse dia que te deixares encantar,

Oh virgem pálida que pousas no balastro de via,

Canta uma história ao vento, um sopro de cotovia,

Para que o encanto, pelo vento, se permita evocar

Memórias da tua presença, pela orla que te cingia.

 

Se um dia... nesse dia ousares sentir o seu toque

Que não te assole o passado, tenta sorrir à sorte.

Abraça o tempo, sobejo, esquece o sul e o norte.

Quiçá pelo gesto, nesses pequenos lábios se enfoque

O sentido da vida, libido dos sonhos, nobre porte.

 

Se um dia... nesse dia que ofereceres teu pranto

Qual gesto cúmplice e devoto, oh virgem fingida,

Olvida dos sonhos o encanto, encontra-te perdida.

No cunho dessa vontade maldita cair-te-á o manto,

Soçobrando o frio gélido da verdade. Estarás despida.

 

Se um dia... nesse dia

Que o triste fado não te encontre.

 

PAS

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Metades inteiras

por PAS, em 15.02.11

Para quem tem dificuldades em assumir que na vida existem momentos, sinais, que nos recordam aquela arte, ou engenho, de outrora, este pedaço de prosa não lhe servirá propósitos. Mas não será iníquo tentar.

Estava no conforto do lar, a exercitar o ócio, quando a ouvi pela primeira vez, uma voz doce, de sotaque brasileiro, arremessava, em ritmo poético, pensamentos. Descrevia-se como se o mundo estivesse nele e depois ele no mundo. Desviei o olhar do laptop e concentrei-o na caixa de sonhos – que hoje se assemelha mais a uma folha consignada pela evolução – na televisão, exibiam-se ícones do tempo e estados, uns de graça outros nem tanto. Eram momentos de uma década marcada pelo assombroso discurso de uma voz, qual peregrina do tempo, que espelhava o mundo à imagem do seu âmago, ou quiçá, vice-versa.

Fiquei prostrada. Não era a melhor poesia que ouvira, nem tampouco algo meritório de causar uma catarse qualquer. Mas por obra da arte do autor e do engenho de quem montou a peça, tornou-se maior que tudo, e conquistou-me.

Voltei a ser surpreendida mais um par de vezes até me decidir pela investida necessária para desvendar o autor, o ritmo ocupava-me a mente e segmentos da poesia apareciam-me como fragmentos indecifráveis, procurei e inventei inúmeros métodos para descodificar o inventor: nada. Nada era o que surgia de retorno, como se o mundo quisesse esconder de mim a obra e o poeta. Até que a razão tomou a obsessão, que por esses dias parecia maior que tal mundo, e qual veículo da clarividência encontrou a solução.

Contactei o canal de exibição e perguntei, na minha ignorância, o nome do poeta que declamava poesia sob o signo de imagens de uma década, ao que tão delicadamente a SIC respondeu: Oswaldo Montenegro, pai do poema Metade.

Fez-se silêncio na minha alma, procurei agradecida pela Metade que Oswaldo consagrara ao mundo, e só a ouvi de novo quando encontrei o escrito na sombra dos meus olhos. Li e reli, voltei a ler mais uma e duas vezes, sempre com a voz do poeta a substituir a voz da consciência e a cantar palavras de mérito. A metade ficou completa.

Já a catarse? Perguntam-se, fica nas minhas quatro paredes, naquele quarto antes contado e jamais exibido. Mas de prenda deixo-vos um excerto.

 

(...)

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflicta em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

(...)


Oswaldo Montenegro, Metade

 

PAS

 

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Criança

por PAS, em 10.02.11

Olhas-te criança ao espelho, crítica,

Estudas com horror e pormenor defeitos,

Criados pela mente enferma de preconceitos!

De sobejos nobres de uma sociedade cínica,

Onde nem a mais penitente fonte bíblica

Almejaria subjugar homéricos eleitos.

 

Olhas-te criança ao espelho e não vês:

Que por trás do velado sonho, pesadelo, cruel,

Está a inocência banhada pelo castanho mel.

Que a perfeição reside no defeito e não na tez

Formosa e esculpida pelo punho de quem crês

Ser o virtuoso, senhor da vida, no reino de fel.

 

Olhas-te criança sem espelho, sem razão,

Perdida num vislumbre distante e eterno

Caminhas sob falsas premissas e desgoverno

À espera que um ser perfeito te dê a mão.

Já não és primavera, nem tampouco verão,

És inverno.

Perdeste a inocência criança, e eu peço perdão!

 

PAS

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