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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
27.Agosto.2013
Hoje armei-me, adoro esta expressão cheia de classe, em ciclista. Andei feita parola, de calção, "camisa em tê" - vá toca a falar português - e óculos de fino intelecto a palmilhar Lisboa da primeira à sétima colina.
Conclusão a retirar do sacrifício: Nenhuma de jeito. A pança continua no mesmo sitio, a minha cara assemelha-se a um pimento vermelho redondo gigante, onde as sementes se inverteram e resolveram pautar o pimento, num claro manifesto ás sardas irrascíveis. Outra não conclusão é de que a bicicleta, como objecto, é absolutamente idiota, devia ter um mecanismo que permitisse um modo cool, para quem, como eu se cansa da futilidade do pedalar, para além de que continuo a não conseguir replicar o aspecto madaleno, benedito e diáfano, daquelas meninas que fazem da bicicleta um parceiro de ballet na estrada, e cujas pedaladas são gestos de uma coreografia que só os benquistos alcançam. Pois merda para elas. Eu pareço uma parola.
PAS
19.Agosto.2013
Hoje a TVI conseguiu bater o recorde de pior entrevista de sempre num canal de televisão português.
Entrevistado: Lorenzo Nobody Gives a Fuck Who
Entrevistadora: Judite Estaline Sousa
Então o assunto foi, tão só, a enormidade da riqueza do Lorenzo, que nasceu no Brasil, viveu em Milão e agora reside no Estoril. Assim como o dinheiro que gasta com festas de aniversário, joalharia, carros e outros, e o facto de não dar a sua riqueza ao povo português, pobre e descompensado.
A Judite resolveu vestir o manto vermelho e acusar o rapaz de fútil, de desfrutar de uma riqueza que em portugal devia ser crime, e quase culpar o "cristo" da crise instalada.
No final, quase me apeteceu dar uma moeda ao Lorenzo e uma chapada à Judite, principalmente, quando tantas vezes já passou pelos holofotes da tv portuguesa um senhor chamado Cristiano Ronaldo que é cópia chapada da vida de fausto do Lorenzo Nobody Gives a Fuck Who, e considerado imagem de sucesso.
PAS
15.Agosto.2013
Dias nadam sobre ondas invisíveis de raios UV, a mente associa-se ao ócio e o pensamento torna-se um registo oásico de um deserto de ideias. De fundo faz-se soar a normalidade, através de um A/C demasiado barulhento para ser premiado pela temperatura menos sofrível do antro.
Não se passa nada. A televisão oferece uma variadade de merda apenas existente nas fossas comuns do interior da China. À janela, observo a rua vazia. Fico a aguardar os naturais rolos de feno habituais nos desertos cinematográficos. Mas nada. Nem vento, nem feno, nem lixo.
Ligo para alguém, só para saber se o som do outro lado, da agora inexistente linha, era igual ao do oco e pausado silêncio. Apenas o toque ininterrupto de chamada se faz presente.
Dou um berro, os dois gatos olham para mim e logo desviam o sentido para se recostarem-se novamente no sofá. Também eles se vergaram ao nada.
Fico a olhar ao espelho, só eu e eu, tento descobrir o significado do "nada no olhar", procuro-o no meu olho direito, depois no esquerdo, até a vista ficar turva, ardente e uma lágrima escorrer pelo rosto.
Uma voz chama-me de outra divisão e retira-me da hipnose. "Um algo" pensei. Corri. A revelação foi o alarme do e-mail a avisar-me, que Nada estaria a aguardar. E porque um bom feriado é um bom conjunto de nadas, suspendi a busca por algo e abracei o nada, como se não houvesse amanhã.
PAS
14.Agosto.2013
... de repente fiz-me senhora do teu pensamento e sobre a amurada de colchas e lençóis conquistei o meu espaço, bem próximo do teu, onde apenas um suspiro sobrevivia e um batimento de coração cantava. Era noite e eramos só nós dois.
PAS
09.Agosto.2013
Hoje. Local, Metro de Lisboa, sentada num dos vários ninhos para quatro individuos desconhecidos.
À minha frente estava sentada uma mulher de origem indiana, perfeitamente normal, amarela, com pouca pele à mostra na cara, mas de braços nús, quase até ao pescoço do vizinho do lado.
Até aqui tudo fixe, até o meu olhar clínico cair sobre a habitual bola vermelha situada entre os olhos. O tamanho era regular, o vermelho vivo, como se pede, mas estava deslocada. O lugar da bola é claramente cirúrgico, diria milimétrico, e a bola da Priyanka sentada à minha frente estava a encaminhar-se perigosamente para o olho direito, com a agravante de estar a deixar rasto.
Apeteceu-me avisar a Priyanka, meter o dedo na bola e colocá-la no sitio, mas acabei por deixar a bola seguir o seu curso rumo ao olho inocente.
Sim a cobardia venceu e a estação do Metro do Cais-do-Sodré também.
PAS
TESTEMUNHO
20.Maio.2013
Este será o meu último testemunho sobre o Benfica, esta temporada, bem sei que a temporada só termina no próximo domingo mas para mim, e existe um enorme duelo entre neurónios Pros e Cons, pode até nunca ter começado vistas bem as coisas.
Sou uma pessoa de hábitos simples, tenho pequenos prazeres dos quais não abdico e um deles é de sofrer abnegadamente pelo Benfica. Quem me conhece sabe que a doutrina pela qual professo a minha abnegação é tão genuína quanto ingénua. Enfim, amores têm muito pouco de razão quando são verdadeiros.
A origem deste meu entusiasmo, conquistado sobre o desgosto profundo do meu pai, esteve numa influência, sem paralelo, do meu avô materno, benfiquista apaixonado, habitué nas vitórias e conquistas e hoje um sofredor silencioso que perdura no tempo, qual obstáculo à intempérie, caminhando lado a lado com a esperança de ver o Glorioso regressar à glória. Não esqueço também os Verões de injecção benfiquista, com os meus primos Albuquerques, acérrimos discípulos da águia e também eles habituados a cultivar no âmago de qualquer um o desígnio benfiquista, é também a eles que devo este amor irracional.
A razão pela qual eu resolvi deslizar a pena tecnológica é só uma: O expressar do orgulho. Há vitórias que se conquistam com suor, arte e por vezes lágrimas, aquelas vitórias que caem sobre os pontos acumulados de uma temporada e que premeiam a regularidade, e depois existem as outras. As outras perguntam? Sim, as outras. Vitórias que uns gracejarão como “morais”, outros como “ausentes de exigência” e por fim os que na incompreensão tratarão simplesmente de as rejeitar.
Falo na vitória do sonho, coisas que certos clubes não compreendem e jamais compreenderão. Uns porque se habituaram a comprar as vitórias e hoje a celebração das mesmas são tão desconchavadas quanto insossas, e outros porque o sonho é hoje um pesadelo imerso em várias épocas de insónia sem fim à vista.
E o que é a vitória do sonho? Para os puristas, como eu, é a vitória do futebol, da beleza do jogo enquanto pratica colectiva, com capacidades mágicas de nos fazerem criar uma lágrima no canto do olho e pensar em arte.
Claro que vozes erguer-se-ão a reclamar títulos, resultados, mas a matemática para mim nunca teve grande poesia, é infinitamente mais belo ver o sonho a ser criado que limitar-mo-nos a aceitar a sua realização. E o Benfica é sonho.
Por tudo isto agradeço a quem desenhou este fado na minha vida, é sem sombra de dúvidas o mais incongruente de todos, mas também a prova de que a incongruência pode e deve ser fonte de prazer.
PAS
19.Março.2013
A morte não nos vem todos os dias sob o mesmo signo, uns dias sugere-se no pensamento como um breve trecho que anuncia o que está marcado no nosso subconsciente desde o acontecimento, por outras alturas afecta a mente como o raio da descoberta e entorpece os sentidos como se a virgindade sobre a morte fosse perdida.
Hoje é dia de segunda fé. Acabrunhou-se-me o espírito com a recordação da ausência do meu pai, e o sentimento de injustiça que o momento revelou no passado feriu-me novamente. É quase tão injusta a ingerência no processo de quem escolhe quem fica e quem perece, como a ausência da sua memória no meu quotidiano. Patrocino, então, a doutrina de que não sofro o que devia, e por isso arrisco inflamar a minha posição ao cunho de “má filha”.
Nestes momentos de infortúnio, procuro compensar a devassa, com um turbilhão de sentimentos e eis que as recordações ocorrem qual montra de curtas-metragens, sem sentido, mas cheias de um alento perdido. Num instante vejo-o sorrir com aquele ar trocista que lhe marcava as feições como ninguém e ocorre-me a ideia o seu magnífico sarcasmo e piada fácil, uma herança que tento alimentar, uns dias com maior sucesso que outros. Noutro momento vejo-o de ar circunspecto, aquele semblante doto na circunstância, em que conseguia ser maior que mundo, à escala de uma pequena criança, que era eu. Vejo-o no sofá de perna cruzada, óculos rectos e gestos de mestre, um senhor da vida, eterno Xá no conhecimento e virtuoso na discussão, era um pai imenso à imagem de qualquer fado, qualquer ambição.
Por isso digo, a morte não vem todos os dias sob o mesmo signo, pois hoje sugere-se diferente, na ausência da pronúncia, no vácuo da existência, enquanto uns cantam orgulhosos a felicidade paternal, em mim mora a angústia de nunca mais o poder dizer senão às paredes vazias do meu coração e esperar que num universo qualquer sobreviva um espectro, uma alma que o receba sem dor.
PAS
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PAS
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