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Ser e não ser social

por PAS, em 25.06.15

Dizer que este país concede apoios sociais aproxima-se vertiginosamente de uma blasfémia. A menos que o apoio resida somente no atendimento muleta, em forma de call-center, que hoje nos ajuda a perceber que se não nos dedicarmos à profissão mendigo, ou sejamos, por obra do acaso, um refugiado do inferno, o apoio social é apenas uma coisa bonita e fofinha para constar no auto deste magnífico estado social.

A minha experiência, não é um filme, mas podia ser dada a sequela que se lhe apresentou. Mas vamos por actos:

 

Acto 1

Uma mulher grávida, desempregada, com o marido desempregado, resolve consultar a segurança social para indagar sobre apoios pré-natais. A resposta foi afirmativa, pelo menos em teoria porque a experiência veio demonstrar que a mesma só bafejava os moribundos sociais.

Acontece que o meio de análise para a concessão deste apoio recai sobre os rendimentos apresentados na declaração de rendimentos do ano anterior, i.e., estávamos em Julho de 2014 mas o que interessava eram os rendimentos de 2013. Por conseguinte e porque nessa altura a situação laboral era completamente diferente o apoio foi indeferido, mesmo apresentando-se ao caso duas pessoas desempregadas, onde só uma recebia subsídio de desemprego de um valor pouco acima dos 600 euros.

A lógica aplicada era simples como o ano passado tinha andado a encher a mula de euros este ano não tinha direito a nada. Assim, devia tentar no ano seguinte quando já não estivesse grávida, ou então, devia pensar com antecedência essa coisa horrível de nome maternidade porque a Segurança Social não alimenta pançudos do passado.

 

Acto 2

Depois da experiência anterior a abordagem à Segurança Social tornou-se um culto ao cepticismo, ao ponto de um indivíduo ir a medo indagar se naquele presente e com aquela realidade merece aquele apoiozinho que os descontos deviam proporcionar.

A maternidade chegou, o ano é agora 2015, novo ano, novas perspectivas, nova declaração de rendimentos. A situação era diferente, um dos membros do casal já trabalhava, ainda que em regime de trabalhador independente, com rendimentos tão incertos quanto a natureza humana. Tinha chegado a altura de tentar novamente um apoio da Mãe Segurança Social, apoio esse que exigiu um plano estratégico. Tinha 6 meses para apresentar o pedido desde a maternidade, esta ocorrera no final do ano o que exigia que o mesmo fosse efectuado até ao final da primavera. Ora, como não podia correr o risco das mentes brilhantes da grande Mãe olharem para o fausto que me rodeara há dois anos, o segredo residiria no protelar do pedido e aguardar a nova entrega do IRS do ano imediatamente anterior. Não havia forma de falhar. Errado. Pois acontece que até final de Maio do presente ano os rendimentos tidos em conta são os relativos a 2013. Portanto estamos em 2015 mas o que conta é 2013, porque o abono pretendido é para um projecto de criança, por nascer, melhor por realizar, para o eu passado. Em algum momento estes cálculos terão feito sentido a quem pensou esta montruosidade e isso é que é assustador.

 

O que ressalvo destas experiências é que não só os "apoios" são cada vez menores como os obstáculos a eles são inversamente proporcionais. Isto não é um estado social, isto é um cenário muito bem caracterizado feito para parecer o que na realidade não é. Vazio de acções, vazio de consciência social, vazio de responsabilidade. A Mãe Segurança Social, não é mais que uma figura que abandona a descendência e que deixa órfã, sem escrúpulos, os filhos que a alimentaram. 34,75% do salário é quanto nos custa a besta com um retorno lamentável.

Apoios sociais? Poias sociais.

 

PAS

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