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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
uma vez escrevi, ao meu pai, que a realidade cada vez mais se confunde com a utopia que a famosa caixa mágica vende. que por vezes tentamos medir o nosso sofrimento pelo sofrimento alheio, pior, falso, e esperamos que os episódios dedicados a um drama particular se desenrolem na expectativa, equivocada, de que tudo termine com uma reunião feliz, com a união harmónica dos elementos do universo, uma divina mão de Deus… no entanto, mais insano é o retratar casual da morte. é tudo tão poético, tão certo, como se a natureza estivesse apenas a recolher um bem emprestado… todos aquiescem à partida, sem remorsos de nunca mais ver um regresso, sem a dor do vazio criado pela eterna ausência daquela voz, no fim, como uma linha de texto que termina com um ponto final precedendo novo parágrafo.
há muito que a ficção não conta, como o sufoco que fica residente a cada memória que irrompe sem hora, sem minuto marcado. a incredibilidade… ouvir aquela voz perecida extravasar a realidade e exibir a vida que antes cantou. o som da música que baptizou viagens, que casou momentos… é o escorrer de uma lágrima por cada insignificância.
à sombra das artes dramáticas devia condescender, aceitar e agradecer… mas não. no fundo é como um longo caminho para casa, sem paisagem ou som, sem culpas para entregar, sem fantasmas para expulsar… só!, com o conhecimento prévio de que aquele por quem esperamos não estará no destino para nos receber.
“I hear only what i want to hear
But I have to believe in something…”
In Paris, Soapbox Opera by Supertramp
PAS
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