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Uns mais afim que outros, enquanto os outros nem sabem do aforismo
Observo à distância uma sombra sentada, inerte, como que concentrada na análise de um qualquer ponto distante, fonte da criação e do engenho da mente, tento imaginar o que lhe assola a mente, mas a escuridão da forma impede-me de ler a expressão capaz de revelar o som do seu âmago. Imagino, portanto, que a par do meu – âmago – uma angústia colérica motive um olhar infiel à condição jubile, e contorne sobre a forma de pesadas rugas de raiva o ódio pelo ser distinto. Sim ódio... porque há dias que odeio, tudo e todos, e quiçá também aquela sombra indistinta seja minha parceira nesse inferno, quiçá... a verdade é que a odeio também, odeio aquela pose quieta qual sintoma de paz de espírito e juízo, o olhar prostrado num horizonte que não vejo, a forma de contornos perfeitos na cal branca que a noite não esconde. Odeio a sua não identidade, o alvitrar de presença sem peso nem conta sobre a escuridão, numa comunhão que parece segredo marital entre forma e espaço. Odeio que saiba mais do que eu... mesmo não sabendo tanto quanto eu; é mais uma existência que me parece suprir de objectividade, mais uma chaga que me senta na vacuidade da existência. Porque razão odeio? Porque razão abomino tudo o que vejo?
Levanto-me da minha janela indiscreta e tento revelar a origem da sombra, na esperança de com ela seduzir as respostas que me carecem. Ergo-me e a sombra mexe-se, terá sentido a minha atenção? Inclino-me sobre o vão perseguindo a sombra em fuga, mas ela não fugia ela vinha ao meu encontro. Reentro no meu quarto, espaço de condenação, e vejo a sombra a acompanhar-me até jazer à minha frente qual pedaço da minha alma. Arfei por vários segundos e incrédula afirmei: Aquela sombra sou eu!
Porque razão odeio? Porque me odeio.
PAS
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