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Sem Querer

por PAS, em 29.08.13

14.Agosto.2013


... de repente fiz-me senhora do teu pensamento e sobre a amurada de colchas e lençóis conquistei o meu espaço, bem próximo do teu, onde apenas um suspiro sobrevivia e um batimento de coração cantava. Era noite e eramos só nós dois.


PAS

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Politica e Público

por PAS, em 24.02.11

Na minha pesquisa matinal pela world wide web encontrei uma premissa que parece tirada a preceito para o meu país: 

 

“If you have selfish, ignorant citizens, you’re gonna get selfish, ignorant leaders. So maybe it’s not the politicians who suck. Maybe something else sucks around here. Like… the public.”

 

George Carlin, um dos grandes comentadores politicos do nosso tempo.

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Se um dia...

por PAS, em 18.02.11

Se um dia... nesse dia que te deixares encantar,

Oh virgem pálida que pousas no balastro de via,

Canta uma história ao vento, um sopro de cotovia,

Para que o encanto, pelo vento, se permita evocar

Memórias da tua presença, pela orla que te cingia.

 

Se um dia... nesse dia ousares sentir o seu toque

Que não te assole o passado, tenta sorrir à sorte.

Abraça o tempo, sobejo, esquece o sul e o norte.

Quiçá pelo gesto, nesses pequenos lábios se enfoque

O sentido da vida, libido dos sonhos, nobre porte.

 

Se um dia... nesse dia que ofereceres teu pranto

Qual gesto cúmplice e devoto, oh virgem fingida,

Olvida dos sonhos o encanto, encontra-te perdida.

No cunho dessa vontade maldita cair-te-á o manto,

Soçobrando o frio gélido da verdade. Estarás despida.

 

Se um dia... nesse dia

Que o triste fado não te encontre.

 

PAS

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A Sombra

por PAS, em 09.08.10

Observo à distância uma sombra sentada, inerte, como que concentrada na análise de um qualquer ponto distante, fonte da criação e do engenho da mente, tento imaginar o que lhe assola a mente, mas a escuridão da forma impede-me de ler a expressão capaz de revelar o som do seu âmago. Imagino, portanto, que a par do meu – âmago – uma angústia colérica motive um olhar infiel à condição jubile, e contorne sobre a forma de pesadas rugas de raiva o ódio pelo ser distinto. Sim ódio... porque há dias que odeio, tudo e todos, e quiçá também aquela sombra indistinta seja minha parceira nesse inferno, quiçá... a verdade é que a odeio também, odeio aquela pose quieta qual sintoma de paz de espírito e juízo, o olhar prostrado num horizonte que não vejo, a forma de contornos perfeitos na cal branca que a noite não esconde. Odeio a sua não identidade, o alvitrar de presença sem peso nem conta sobre a escuridão, numa comunhão que parece segredo marital entre forma e espaço. Odeio que saiba mais do que eu... mesmo não sabendo tanto quanto eu; é mais uma existência que me parece suprir de objectividade, mais uma chaga que me senta na vacuidade da existência. Porque razão odeio? Porque razão abomino tudo o que vejo?

Levanto-me da minha janela indiscreta e tento revelar a origem da sombra, na esperança de com ela seduzir as respostas que me carecem. Ergo-me e a sombra mexe-se, terá sentido a minha atenção? Inclino-me sobre o vão perseguindo a sombra em fuga, mas ela não fugia ela vinha ao meu encontro. Reentro no meu quarto, espaço de condenação, e vejo a sombra a acompanhar-me até jazer à minha frente qual pedaço da minha alma. Arfei por vários segundos e incrédula afirmei: Aquela sombra sou eu!

 

Porque razão odeio? Porque me odeio.

 

PAS

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Pretérito Imperfeito

por PAS, em 19.07.10

Fito esses teus olhos escuros,

Pequenos mas sábios.

 

Fitava.

 

Ouço a tua voz, grave,

Eloquentemente pausada.

 

Ouvia.

 

Bebo cada palavra expressa,

Cada trago, o conhecimento.

 

Bebia.

 

Conduzo a minha mente

Por sítios por ti navegados.

 

Conduzia.

 

Anseio pela tua atenção,

Com a urgência da existência.

 

Ansiava.

 

Aguardo o teu toque,

Agora e na hora da minha morte.

Aguardo.

 

PAS

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O dia em que a morte chegou

por PAS, em 16.09.09

está sentada na já habitual cadeira azul, desengonçada, ligeiramente inclinada para a direita, na direcção do seu lugar comum evocado por uma janela de 20 polegadas e pouco interesse. no fundo vozes desconexas enchem o ambiente de presença, uma manifestação que em nada altera a solidão que ela sente. embora estática caminha qual funâmbula por uma ténue linha de consciência, como que a querer esquecer os desgostos que o destino teima em encomendar. “este é o mundo em que vivemos”, repete ela ao seu reflexo no ecrã impecavelmente limpo, enquanto finge dotar o tempo de um empreendedorismo inexistente. todos os dias uma figura de luz amorfa, criada pelo namoro do sol com a estrutura em aço dos modernos e extensos estores eléctricos, brinca na mesa, nas imediações da sua mão direita. Independentemente da existência cabalmente assumida, ela inventa o ritual como um sinal de visita, do quê, ou quem, não sabe, mas finge… é um momento de insanidade a que se permite, no marasmo de ideias e pensamentos a que se tem obrigado.

hoje, prostrada no mesmo lugar, na mesma cadeira azul, à frente do mesmo espelho vazio, ela aguarda pacientemente pelo momento em que a figura esquizofrénica se revele, como um simbólico término do tédio, e da sub-existência, ela espera… e o tempo passa… mas o “ser” não aparece, rapidamente interioriza que hoje será um “daqueles dias” em que os segundos parecem minutos, os minutos horas, as horas dias, dias perdidos sem qualquer história, som, cheiro, um vazio. inclina os ombros para a frente derrotada enquanto tenta abafar um soluço seco que luta por revelar a angústia que o nó no estômago antevê.

uma música maquinal acorda-a do adormecimento superficial, olha contrariada para o pequeno ecrã LCD, do aparelho telefónico, na tentativa de revelar o intruso, mas a resposta nada subtrai aos contornos da incógnita, relutantemente pega no auscultador e emite um apagado “estou?” do outro lado rechaça uma voz negra: “a morte chegou!”

 

PAS

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Dois destinos

por PAS, em 22.06.09

água fria envolve-me os pés, sinto os ossos quebrarem, não demoro muito a encontrar-te com os olhos, observo-te de longe, envolvida pelo mar, um espaço que de tão vasto parece um vazio, um vazio cheio de drama. tu não te atemorizas. soltas a dor e a revolta sob as ondas, deixas as lágrimas escorrerem na imensidão e imiscuírem-se na profusão de água salgada. estou longe mas sinto a tua dor, é tão real que esmaga qualquer outro sentido. qual coreografia vejo-te subir e descer no mar revolto, uma dança de cumplicidade com o etéreo, segues, hipnotizada, as ondas que te levam para longe de mim, para longe da existência. entro em pânico, sei que as minhas forças são insignificantes face ao poder de Tristão. sinto uma dor no estômago, qual murro voluntário do destino, o significado é avassalador: vais perdê-la!
olho à volta em desespero à procura de uma ferramenta divina, existia eu… apenas eu, contra a vontade do mar e do destino. levanto os braços e grito, o som parece abafado pela água, giro sobre mim à procura de um sinal de esperança, as formas vão-se extinguindo com a dança desnorteada… pensei: leva-me a mim também.
entre a incoerência dos pensamentos e a exaustão emocional, ouço uma voz ao meu lado, chamava aos ventos uma estrela diurna, que se movia graciosamente entre a ondulação, vi a estrela transformar-se num homem à medida que a clareza me assolava o espírito, dirigia-se agora a ela, estavam os dois tão longe quanto o desespero permitia, mas senti por fim a esperança a chegar. não consegui ver os seus olhos mas pressenti um misto incongruente de alívio e frustração. eu senti tão-somente paz. ela regressaria… para não mais partir. a água continuou fria.

 

PAS

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Pathos

por PAS, em 13.05.09

“nada a declarar” é o meu estado actual, não consigo intuir um momento, um gesto, uma palavra que me leve a pegar na caneta e escrever apaixonadamente. talvez esta seja a verdadeira razão pela qual aceito a mediocridade tão bem, seria impossível imaginar um mundo de expectativas exógeno ao meu assíncopado ego. não há nada mais fácil que viver sem o peso da expectativa. um dia disseram: desiludiste-me! qual faca espetada no peito ainda hoje sinto uma farpa de metal abraçada a mim… não pela origem da palavra mas pela conivência. A crua assunção de que sou uma ténue imagem do individuo que um deus qualquer projectou.
“Nada a declarar”. Sou eu… na mediocridade.

 

PAS

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Soapbox Opereta

por PAS, em 14.04.09

uma vez escrevi, ao meu pai, que a realidade cada vez mais se confunde com a utopia que a famosa caixa mágica vende. que por vezes tentamos medir o nosso sofrimento pelo sofrimento alheio, pior, falso, e esperamos que os episódios dedicados a um drama particular se desenrolem na expectativa, equivocada, de que tudo termine com uma reunião feliz, com a união harmónica dos elementos do universo, uma divina mão de Deus… no entanto, mais insano é o retratar casual da morte. é tudo tão poético, tão certo, como se a natureza estivesse apenas a recolher um bem emprestado… todos aquiescem à partida, sem remorsos de nunca mais ver um regresso, sem a dor do vazio criado pela eterna ausência daquela voz, no fim, como uma linha de texto que termina com um ponto final precedendo novo parágrafo.
há muito que a ficção não conta, como o sufoco que fica residente a cada memória que irrompe sem hora, sem minuto marcado. a incredibilidade… ouvir aquela voz perecida extravasar a realidade e exibir a vida que antes cantou. o som da música que baptizou viagens, que casou momentos… é o escorrer de uma lágrima por cada insignificância.
à sombra das artes dramáticas devia condescender, aceitar e agradecer… mas não. no fundo é como um longo caminho para casa, sem paisagem ou som, sem culpas para entregar, sem fantasmas para expulsar… só!, com o conhecimento prévio de que aquele por quem esperamos não estará no destino para nos receber.

 

 

“I hear only what i want to hear
But I have to believe in something…”

In Paris, Soapbox Opera by Supertramp

 

PAS

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Um fim I

por PAS, em 08.04.09

caminhamos cegos sobre mentiras. mentiras oferecidas por pequenas janelas tecnológicas que nos parecem conhecer melhor que nós próprios. exploram a infelicidade residente no lugar mais recôndito do ser, e revelam no espelho irreal do vidro de imagens, o reflexo de um âmago corrompido, sem sintomas de verdade ou bom senso.
caminhamos sobre mentiras, à procura de uma promessa que nunca pedimos, à espera de ver regressar a inocência que vendemos numa picada qualquer, de um lugarejo qualquer do tempo. Inibimos a intuição para acreditarmos que a vida é de sentido único… até aqueles pedaços de vida que nos identificam começarem a perecer. nesse “então”, acontece uma dor tão irreal quanto a percepção das alternativas oferecidas pelo caminho da cegueira. nesse “então” olhamos para um qualquer monitor e desejamos devolver o lixo absorvido em troca do tempo perdido… sem esperança e sem resposta.

 

apesar de tudo ainda sinto que caminho sobre mentiras, mas agora infinitamente mais doces, porque nelas estás tu.

 

a ti, meu pai...

 

PAS

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