Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Sonho de uma noite de Inverno

por PAS, em 11.03.14
Não é segredo que o meu maior sonho é um dia escrever. Há quem diga que já o faço, eu continuo a negá-lo. Para mim escrever é mais do que uma ensemble de palavras, um dote a um tema, dedicada a um sujeito. Escrever é o poder de fazer sonhar e viver um sonho. É o poder de contar qualquer história sem reservas, apenas quimeras. 
De quando em vez sou testemunha de momentos que me alimentam o desejo e me fazem crer que um dia serei capaz. Momentos que me rasgam um sorriso nos lábios, que me vestem de personalidade, onde o mundo é muito mais que os dias que passam, as horas que o marcam e os nomes que lhe chama. 
Um dia, nesse dia, farei segredo do alcançado.
PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Xeque

por PAS, em 11.03.14

Nos dias que correm a vida tem-se apresentado sucessivamente como um tabuleiro de xadrez. O passeio pelas brancas parece-me claro, etéreo, sem vestígios de dramas, um quadro perfeito da vida na terra sem o erro. No entanto estou forçada a deslocar-me pelo caminho negro, com o objectivo impossível de matar uma rainha inexistente, e com o mais que destino de vir a ser comida por um cavalo qualquer, que vive a vida sem pretensões de ser bem sucedido. Aguardo novo jogo, e novos dias.

 

PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Rubik

por PAS, em 13.09.13

Eu acredito que as pessoas e consequente postura na sociedade são semelhantes à forma como se olha para um Cubo de Rubik. 

Umas procuram, trabalham, torcem e o falhanço é o único resultado. Podem, eventualmente, chamar vitória a uma linha, quem sabe até a uma face, mas o mundo sabe que falharam e continuarão a falhar. 

Depois existem os conformados, aqueles cujo o tutti-frutti é sinal de suficiente, mexer num cubo é estúpido e que o sólido tem “mais piada” assim. Nessas situações a percepção é de que a vida é para ser uma caminhada pela estrada do desinteressante e o horizonte uma linha ao fundo da estrada. Quase podiam ser minimalistas, se o minimalismo não tivesse todo um conteúdo por trás de uma retórica, inexistente nestes “Tutti-frutti”.

Por fim, os Rubikianos, indivíduos que abraçam um projecto, uma conduta, e não se deixam vencer pela dificuldade, procurando com maior ou menor dificuldade o sucesso, construindo linha a linha, face a face as cores da sua vida. 

Claro que ainda existem aqueles que roubam cubos, destroem-nos pelo que representam, ou ao invés de se preocuparem com os seus cubos concentram-se em interferir em cubos alheios.

Depois de 189 palavras de analogias de século XX, concluo. Bem sei que existem pessoas – cruéis sinaléticas humanas – que avisam, com moderada frequência, que outras são apenas arraçadas da espécie. Eu limito-me a concordar, pelo menos pelos próximos dias, até a última estupidez humanada ter sido evacuada... literalmente.


PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Metrofiction

por PAS, em 29.08.13

09.Agosto.2013


Hoje. Local, Metro de Lisboa, sentada num dos vários ninhos para quatro individuos desconhecidos. 
À minha frente estava sentada uma mulher de origem indiana, perfeitamente normal, amarela, com pouca pele à mostra na cara, mas de braços nús, quase até ao pescoço do vizinho do lado.
Até aqui tudo fixe, até o meu olhar clínico cair sobre a habitual bola vermelha situada entre os olhos. O tamanho era regular, o vermelho vivo, como se pede, mas estava deslocada. O lugar da bola é claramente cirúrgico, diria milimétrico, e a bola da Priyanka sentada à minha frente estava a encaminhar-se perigosamente para o olho direito, com a agravante de estar a deixar rasto.
Apeteceu-me avisar a Priyanka, meter o dedo na bola e colocá-la no sitio, mas acabei por deixar a bola seguir o seu curso rumo ao olho inocente. 
Sim a cobardia venceu e a estação do Metro do Cais-do-Sodré também.


PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Esse Ele Bê

por PAS, em 29.08.13

TESTEMUNHO

20.Maio.2013


Este será o meu último testemunho sobre o Benfica, esta temporada, bem sei que a temporada só termina no próximo domingo mas para mim, e existe um enorme duelo entre neurónios Pros e Cons, pode até nunca ter começado vistas bem as coisas.

Sou uma pessoa de hábitos simples, tenho pequenos prazeres dos quais não abdico e um deles é de sofrer abnegadamente pelo Benfica. Quem me conhece sabe que a doutrina pela qual professo a minha abnegação é tão genuína quanto ingénua. Enfim, amores têm muito pouco de razão quando são verdadeiros. 

A origem deste meu entusiasmo, conquistado sobre o desgosto profundo do meu pai, esteve numa influência, sem paralelo, do meu avô materno, benfiquista apaixonado, habitué nas vitórias e conquistas e hoje um sofredor silencioso que perdura no tempo, qual obstáculo à intempérie, caminhando lado a lado com a esperança de ver o Glorioso regressar à glória. Não esqueço também os Verões de injecção benfiquista, com os meus primos Albuquerques, acérrimos discípulos da águia e também eles habituados a cultivar no âmago de qualquer um o desígnio benfiquista, é também a eles que devo este amor irracional.

A razão pela qual eu resolvi deslizar a pena tecnológica é só uma: O expressar do orgulho. Há vitórias que se conquistam com suor, arte e por vezes lágrimas, aquelas vitórias que caem sobre os pontos acumulados de uma temporada e que premeiam a regularidade, e depois existem as outras. As outras perguntam? Sim, as outras. Vitórias que uns gracejarão como “morais”, outros como “ausentes de exigência” e por fim os que na incompreensão tratarão simplesmente de as rejeitar.
Falo na vitória do sonho, coisas que certos clubes não compreendem e jamais compreenderão. Uns porque se habituaram a comprar as vitórias e hoje a celebração das mesmas são tão desconchavadas quanto insossas, e outros porque o sonho é hoje um pesadelo imerso em várias épocas de insónia sem fim à vista. 
E o que é a vitória do sonho? Para os puristas, como eu, é a vitória do futebol, da beleza do jogo enquanto pratica colectiva, com capacidades mágicas de nos fazerem criar uma lágrima no canto do olho e pensar em arte. 

Claro que vozes erguer-se-ão a reclamar títulos, resultados, mas a matemática para mim nunca teve grande poesia, é infinitamente mais belo ver o sonho a ser criado que limitar-mo-nos a aceitar a sua realização. E o Benfica é sonho.

Por tudo isto agradeço a quem desenhou este fado na minha vida, é sem sombra de dúvidas o mais incongruente de todos, mas também a prova de que a incongruência pode e deve ser fonte de prazer. 


PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Dia Sem Pai

por PAS, em 29.08.13

19.Março.2013


A morte não nos vem todos os dias sob o mesmo signo, uns dias sugere-se no pensamento como um breve trecho que anuncia o que está marcado no nosso subconsciente desde o acontecimento, por outras alturas afecta a mente como o raio da descoberta e entorpece os sentidos como se a virgindade sobre a morte fosse perdida.
Hoje é dia de segunda fé. Acabrunhou-se-me o espírito com a recordação da ausência do meu pai, e o sentimento de injustiça que o momento revelou no passado feriu-me novamente. É quase tão injusta a ingerência no processo de quem escolhe quem fica e quem perece, como a ausência da sua memória no meu quotidiano. Patrocino, então, a doutrina de que não sofro o que devia, e por isso arrisco inflamar a minha posição ao cunho de “má filha”.
Nestes momentos de infortúnio, procuro compensar a devassa, com um turbilhão de sentimentos e eis que as recordações ocorrem qual montra de curtas-metragens, sem sentido, mas cheias de um alento perdido. Num instante vejo-o sorrir com aquele ar trocista que lhe marcava as feições como ninguém e ocorre-me a ideia o seu magnífico sarcasmo e piada fácil, uma herança que tento alimentar, uns dias com maior sucesso que outros. Noutro momento vejo-o de ar circunspecto, aquele semblante doto na circunstância, em que conseguia ser maior que mundo, à escala de uma pequena criança, que era eu. Vejo-o no sofá de perna cruzada, óculos rectos e gestos de mestre, um senhor da vida, eterno Xá no conhecimento e virtuoso na discussão, era um pai imenso à imagem de qualquer fado, qualquer ambição. 
Por isso digo, a morte não vem todos os dias sob o mesmo signo, pois hoje sugere-se diferente, na ausência da pronúncia, no vácuo da existência, enquanto uns cantam orgulhosos a felicidade paternal, em mim mora a angústia de nunca mais o poder dizer senão às paredes vazias do meu coração e esperar que num universo qualquer sobreviva um espectro, uma alma que o receba sem dor.

PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Snob Doutor

por PAS, em 20.05.11

O snobismo da graduação.

Portugal sempre foi um país de preconceitos e alguns despeitos. Sempre olhou de soslaio para aqueles que ora por inabilidade cultural, ora por incompetência mental, ou tão só por falta de recursos não souberam usufruir dos meios que a formação académica ofereceu. É tão ou mais despiciente esta matéria pelo facto de observarmos amplas vezes pessoas sem formação de carácter serem entusiasticamente aclamadas pelo facto de serem doutoradas pelo academismo.

Nunca reduzi a minha percepção da sociedade a esse estigma, nem tampouco limitei as minhas relações a uma pirâmide de nobreza académica, cingindo à base os incautos na cultura. As pessoas são muito mais que o seu titulo académico, que mais não seja por motivos de empirismo. A experiência é infinitamente mais esclarecedora que o academismo, que mais não seja, pela consequência dos actos que protelaram um rumo.

É natural que quem viva numa sociedade com estes preconceitos se proteja com eles, e defina a sua própria noção de sociedade a partir deles, uma visão diferente requer um depuramento do olhar aos assuntos periféricos de cada ego, uma análise para além da superficialidade existente por via do contágio da moda, dos vícios de comportamento tingidos por paradigmas supérfluos, da estandardização do academismo.O academismo não forma pessoas, forma profissões, mas a qualidade intrínseca de cada um é revelada pelo traquejo, pela nobreza de ego, pela habilitação mental. É na ausência desta percepção que a sociedade actual peca, ela jamais conseguirá uma existência equilibrada enquanto perseguir os paradigmas errados.

Um diploma qualquer individuo com meios consegue, já nobreza de carácter...

 

PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Triunvirato de escolhas

por PAS, em 11.05.11

Em tempos, década de 1930, houve um individuo de nome Paul von Hindenburg, que criou o ministério da propaganda aquando a tomada de posse do Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores. Joseph Goebbels, responsável pelos desígnios deste ministério, terá sido um excelente professor do actual Partido Socialista pois a forma como controlam e manipulam a informação/cultura é tão preocupante que emite um sinal de estranha adoração pela figura de quem lidera o Partido Socialista, ao ponto de tudo o que diz se transformar em verdade absoluta e absurda, ou na sombra da dúvida se prestar à reinterpretação.

Todos os dias somos confrontados com a presença de um ou mais representantes, nas nossas televisões, rádios, ou jornais, a vender terrorismo político, numa clara tentativa de enunciar a oposição ao conglomerado de mal intencionada, e vestir a mesma de inimigo do povo.

Este comportamento não seria de todo preocupante se a história das sondagens não contasse um crescimento, em todos os pontos indecifrável, nas intenções de voto dos mesmos indivíduos que conseguiram colocar Portugal numa das piores situações de que há memória.

Não seria preocupante se um dos nomes enunciados, como candidato à vitória nas legislativas, não fosse o mesmo do individuo que mente compulsivamente ao seu povo, que afirma arrogantemente que não precisa de ajuda externa, que não se dispõe a governar com esta e dias depois está a chamar um triunvirato de auxílio e a clamar ser o melhor intérprete para liderar os desígnios do povo.

Não, não seria preocupante se o povo português ao invés de beber as palavras de certos intervenientes, de quem se espera uma postura de estadista e elevação e se produzem quais galãs de novela de horário nobre, se mobilizasse no sentido de conhecer a realidade por trás das palavras. Que ao invés de abraçarem partidos quais clubes desportivos, almejando apenas vitórias sem se preocuparem com o conteúdo formal dos mesmos, se preocupem em defender as suas famílias e interesses.

A retórica não alimenta. Agora o conhecimento pode ser o signo da salvação e superação.

Não me preocuparia com o futuro do meu país se encontrasse em cada português eleitor, um português interessado e empenhado em encontrar no leque que se apresenta a sufrágio a solução para a nação e por conseguinte para si.

Por ora preocupo-me e muito. Lembro os alemães, desenvoltos, seduzidos e fascinados por uma retórica deturpada e esquizofrénica de loucos, e penso se eles pecaram como irá este meu povo superar a propaganda?

Resta-me esperar que, dia 5 de Junho, um qualquer génio sirva a consciência global de um discernimento superior ao lixo a que foi exposta.

Porque por estes dias, meses e anos, Portugal é deveras preocupante.

 

PAS

Autoria e outros dados (tags, etc)

Politica e Público

por PAS, em 24.02.11

Na minha pesquisa matinal pela world wide web encontrei uma premissa que parece tirada a preceito para o meu país: 

 

“If you have selfish, ignorant citizens, you’re gonna get selfish, ignorant leaders. So maybe it’s not the politicians who suck. Maybe something else sucks around here. Like… the public.”

 

George Carlin, um dos grandes comentadores politicos do nosso tempo.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Metades inteiras

por PAS, em 15.02.11

Para quem tem dificuldades em assumir que na vida existem momentos, sinais, que nos recordam aquela arte, ou engenho, de outrora, este pedaço de prosa não lhe servirá propósitos. Mas não será iníquo tentar.

Estava no conforto do lar, a exercitar o ócio, quando a ouvi pela primeira vez, uma voz doce, de sotaque brasileiro, arremessava, em ritmo poético, pensamentos. Descrevia-se como se o mundo estivesse nele e depois ele no mundo. Desviei o olhar do laptop e concentrei-o na caixa de sonhos – que hoje se assemelha mais a uma folha consignada pela evolução – na televisão, exibiam-se ícones do tempo e estados, uns de graça outros nem tanto. Eram momentos de uma década marcada pelo assombroso discurso de uma voz, qual peregrina do tempo, que espelhava o mundo à imagem do seu âmago, ou quiçá, vice-versa.

Fiquei prostrada. Não era a melhor poesia que ouvira, nem tampouco algo meritório de causar uma catarse qualquer. Mas por obra da arte do autor e do engenho de quem montou a peça, tornou-se maior que tudo, e conquistou-me.

Voltei a ser surpreendida mais um par de vezes até me decidir pela investida necessária para desvendar o autor, o ritmo ocupava-me a mente e segmentos da poesia apareciam-me como fragmentos indecifráveis, procurei e inventei inúmeros métodos para descodificar o inventor: nada. Nada era o que surgia de retorno, como se o mundo quisesse esconder de mim a obra e o poeta. Até que a razão tomou a obsessão, que por esses dias parecia maior que tal mundo, e qual veículo da clarividência encontrou a solução.

Contactei o canal de exibição e perguntei, na minha ignorância, o nome do poeta que declamava poesia sob o signo de imagens de uma década, ao que tão delicadamente a SIC respondeu: Oswaldo Montenegro, pai do poema Metade.

Fez-se silêncio na minha alma, procurei agradecida pela Metade que Oswaldo consagrara ao mundo, e só a ouvi de novo quando encontrei o escrito na sombra dos meus olhos. Li e reli, voltei a ler mais uma e duas vezes, sempre com a voz do poeta a substituir a voz da consciência e a cantar palavras de mérito. A metade ficou completa.

Já a catarse? Perguntam-se, fica nas minhas quatro paredes, naquele quarto antes contado e jamais exibido. Mas de prenda deixo-vos um excerto.

 

(...)

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflicta em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

(...)


Oswaldo Montenegro, Metade

 

PAS

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2014
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2013
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2012
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2011
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2010
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2009
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2008
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2007
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2006
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D