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A Brasileira

por PAS, em 11.03.14

Local: Brasileira 
Comentário: Isto está entregue aos bichos!

Sim, o café chama-se Brasileira, mas como tudo o que se espera de inteligente, não tem que ser levado de forma literal. Isto porque, o estabelecimento, símbolo da Lisboa histórica e casa da magnífica escultura de Lagoa Henriques, dedicada ao maior poeta moderno português, está inundado (oferta dos constantes dias molhados) de empregados brasileiros e outros quejandos.
Ora, isto não seria problema se:

1. Os empregados fossem, independentemente da nacionalidade, competentes;
2. Os empregados fossem diligentes;
3. Os empregados nos tratassem como clientes e não como "gajos-que-vêm-dar-trabalho-a-quem-quer-estar-encostado-ao-balcão";
4. Se o produto servido fosse de uma qualidade tal que o serviço dos mesmos empregados fosse absolutamente obliterado pela gastronomia.

Como nenhum dos pontos acima se adequou ao contexto da visita, restou ao meu parceiro na empreitada o comentário: "Isto está entregue aos bichos!"

Sim, está. A Brasileira, como Portugal, está entregue aos bichos, quando os valores pelos quais se erigiram se desmontam numa retórica fria de procura de lucros desenfreados, sem contemplar a qualidade, a génese, o orgulho de ser português. O salário desumano e a exploração é hoje uma bandeira infinitamente superior à responsabilidade de representação de uma cultura. Que se lixe a cultura, que se lixe Lisboa, que se lixe Portugal!

Quando entro na Brasileira e ignoro o seu valor histórico em detrimento de um serviço de merda, com produtos de merda, e me pergunto: "Mas esta gente sabe que está a trabalhar n' A Brasileira?", assumo que fui comida por mais um bicho.

 

PAS

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Juditismos

por PAS, em 29.08.13

19.Agosto.2013

 

Hoje a TVI conseguiu bater o recorde de pior entrevista de sempre num canal de televisão português. 

Entrevistado: Lorenzo Nobody Gives a Fuck Who
Entrevistadora: Judite Estaline Sousa

Então o assunto foi, tão só, a enormidade da riqueza do Lorenzo, que nasceu no Brasil, viveu em Milão e agora reside no Estoril. Assim como o dinheiro que gasta com festas de aniversário, joalharia, carros e outros, e o facto de não dar a sua riqueza ao povo português, pobre e descompensado. 
A Judite resolveu vestir o manto vermelho e acusar o rapaz de fútil, de desfrutar de uma riqueza que em portugal devia ser crime, e quase culpar o "cristo" da crise instalada.

No final, quase me apeteceu dar uma moeda ao Lorenzo e uma chapada à Judite, principalmente, quando tantas vezes já passou pelos holofotes da tv portuguesa um senhor chamado Cristiano Ronaldo que é cópia chapada da vida de fausto do Lorenzo Nobody Gives a Fuck Who, e considerado imagem de sucesso.


PAS

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Dia Sem Pai

por PAS, em 29.08.13

19.Março.2013


A morte não nos vem todos os dias sob o mesmo signo, uns dias sugere-se no pensamento como um breve trecho que anuncia o que está marcado no nosso subconsciente desde o acontecimento, por outras alturas afecta a mente como o raio da descoberta e entorpece os sentidos como se a virgindade sobre a morte fosse perdida.
Hoje é dia de segunda fé. Acabrunhou-se-me o espírito com a recordação da ausência do meu pai, e o sentimento de injustiça que o momento revelou no passado feriu-me novamente. É quase tão injusta a ingerência no processo de quem escolhe quem fica e quem perece, como a ausência da sua memória no meu quotidiano. Patrocino, então, a doutrina de que não sofro o que devia, e por isso arrisco inflamar a minha posição ao cunho de “má filha”.
Nestes momentos de infortúnio, procuro compensar a devassa, com um turbilhão de sentimentos e eis que as recordações ocorrem qual montra de curtas-metragens, sem sentido, mas cheias de um alento perdido. Num instante vejo-o sorrir com aquele ar trocista que lhe marcava as feições como ninguém e ocorre-me a ideia o seu magnífico sarcasmo e piada fácil, uma herança que tento alimentar, uns dias com maior sucesso que outros. Noutro momento vejo-o de ar circunspecto, aquele semblante doto na circunstância, em que conseguia ser maior que mundo, à escala de uma pequena criança, que era eu. Vejo-o no sofá de perna cruzada, óculos rectos e gestos de mestre, um senhor da vida, eterno Xá no conhecimento e virtuoso na discussão, era um pai imenso à imagem de qualquer fado, qualquer ambição. 
Por isso digo, a morte não vem todos os dias sob o mesmo signo, pois hoje sugere-se diferente, na ausência da pronúncia, no vácuo da existência, enquanto uns cantam orgulhosos a felicidade paternal, em mim mora a angústia de nunca mais o poder dizer senão às paredes vazias do meu coração e esperar que num universo qualquer sobreviva um espectro, uma alma que o receba sem dor.

PAS

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Observo, hoje, entre a celeuma que se ergue por ordem de uma “geração à rasca”, o percurso corrido e arrastado na lama de miséria que um Estado criou. São anos, quiçá décadas, de subserviência a uma centelha de normas e ditames castrantes e insultuosos à condição humana, ironicamente condecorados pelo “papismo” de líderes políticos sob a égide de reformas, crescimento e competitividade. De permeio, no beiral dessa estrada olhada, vemos a exploração de uma classe de sonhos de morte anunciada. Vemos um princípio de escravidão, que lentamente, qual doença crónica foi evoluindo para se transformar numa relação perniciosa, de autoflagelo e sadismo.

Observo, hoje, a relação promíscua entre a jovem inocência laboral e o patronato como um qualquer síndrome de Estocolmo, onde o flagelante – patrono – toma um papel tão preponderante na sobrevivência do jovem, que este se submete ás condições que o primeiro desenha, sem contestar o conteúdo. E se neste cenário, como qualquer vítima de sequestro, é compreensível o laxismo e a inércia do jovem, pela situação de dependência decrépita que se criou, o mesmo já não acontece na figura de quem assume o papel director. Que dimensão de sadismo existe no corpo de quem submete o futuro da sua prole aos desígnios da precariedade? Quando é que o egoísmo de quem foi um dia filho e jovem se transformou na gerência pérfida desta sociedade?

São falsas questões, tão falsas quanto o caminho que muitos dos protagonistas desta hecatombe social percorreram rumo ao lugar mais alto da hierarquia, contornando regras, subornando opiniões, cultivando títulos de glória sem guerra, sem suor. Contaminando a infância com falsos conceitos de igualdade e justiça, fazendo porventura crer aos seus filhos que a desonestidade é o direito, a mentira o mérito. Que geração esperar desta descendência?

Não compreendo uma sociedade que usurpa quem mendiga pela sobrevivência, em nome da austeridade e permite, qual vassalagem à luxúria e ao fausto, salários principescos a compadres, por certo de qualidades supremas.
Contabiliza-se, de forma oficial, 25 por cento de jovens adultos portugueses no desemprego, arrisco-me a depreender que outros 25 estarão entregues à “misericórdia” do patronato e dos seus falsos recibos verdes, arriscando mês sim, mês também, uma nota de sincero agradecimento pelos serviços prestados junto a uma declaração de dispensa, sem a salvaguarda que a nossa constituição de direito e democracia acertou um dia pela virtude de quem trabalha. É uma chaga. Uma vergonha.

Pergunto que futuro espera uma nação quando hipoteca a vida de quem um dia terá aos ombros a tarefa de a carregar?

 

PAS

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Snob Doutor

por PAS, em 20.05.11

O snobismo da graduação.

Portugal sempre foi um país de preconceitos e alguns despeitos. Sempre olhou de soslaio para aqueles que ora por inabilidade cultural, ora por incompetência mental, ou tão só por falta de recursos não souberam usufruir dos meios que a formação académica ofereceu. É tão ou mais despiciente esta matéria pelo facto de observarmos amplas vezes pessoas sem formação de carácter serem entusiasticamente aclamadas pelo facto de serem doutoradas pelo academismo.

Nunca reduzi a minha percepção da sociedade a esse estigma, nem tampouco limitei as minhas relações a uma pirâmide de nobreza académica, cingindo à base os incautos na cultura. As pessoas são muito mais que o seu titulo académico, que mais não seja por motivos de empirismo. A experiência é infinitamente mais esclarecedora que o academismo, que mais não seja, pela consequência dos actos que protelaram um rumo.

É natural que quem viva numa sociedade com estes preconceitos se proteja com eles, e defina a sua própria noção de sociedade a partir deles, uma visão diferente requer um depuramento do olhar aos assuntos periféricos de cada ego, uma análise para além da superficialidade existente por via do contágio da moda, dos vícios de comportamento tingidos por paradigmas supérfluos, da estandardização do academismo.O academismo não forma pessoas, forma profissões, mas a qualidade intrínseca de cada um é revelada pelo traquejo, pela nobreza de ego, pela habilitação mental. É na ausência desta percepção que a sociedade actual peca, ela jamais conseguirá uma existência equilibrada enquanto perseguir os paradigmas errados.

Um diploma qualquer individuo com meios consegue, já nobreza de carácter...

 

PAS

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Assócrates

por PAS, em 07.04.11

Não percebo. Também não percebo muita coisa e cada vez percebo menos.

Existe neste país uma vontade masoquista que se sobrepõe à razão e ao discernimento. Uma vontade masoquista criada por uma relação doentia entre um segmento da população e um indivíduo desonesto mascarado pela eloquência e sedução de um discurso adornado de falsidade e quimeras absurdas.

Um dia falei num qualquer síndrome de Estocolmo que parecia afectar a sociedade, uma estranha dependência dos portugueses a um criminoso, como se só nele encontrassem a verdade, apesar deste, insistentemente, lograr fazer-lhes mal. Estranho é que nem mesmo quando a mão lhes é estendida no sentido de as resgatar do suplício elas se divorciam da relação doentia. Dispõem-se a defender, inclusive, o perpetrador como se a culpa fosse mácula delas e nunca do estóico criminoso.

Como digo, não percebo.

Sempre que o vejo, de caraça hipócrita vestida, a discursar ao seu “amado povo”, oração de amor eterno, sinto uma dor no âmago pela indulgência da população. São indivíduos como este que destroem nações e que as escrevem nas páginas negras da história.

Não percebo. Também não percebo muita coisa e cada vez percebo menos, mas uma coisa sei, a mim, o encantador de multidões, não engana. 

PAS 

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Desterra

por PAS, em 23.02.11

Gigantes falos de cimento apontam aos céus

Soltando nuvens de cinzento sobre um mar azul.

Serpentes de metal ejaculam pecados em detritos,

Sobre as águas da vida, sem a advertência de mal.

Árvores, socráticas, convidadas pelo vento a dançarem

Caem, desmaiadas, aos pés da ignorância humana.

Animais atravessam desertos, pântanos, lagos

À procura dum sinal divino que lhes diga onde parar.

Raízes de vazio em contínuo rasgam solos de seca,

Sem oásis no horizonte. Uma gota de água que console.

Campos de verde esperança, esmagam-se sob o pé nu

Da displicência. Da sobranceria humana. Do desrespeito.

Crianças choram, gritos mudos, de braços caídos,

Derrotadas por um horror de infância, fome e sede.

Um saco branco de plástico voa sem destino pela rua,

Qual símbolo de uma paz triste e de uma vida nua.

Matam. Torturam. Contaminam o futuro sem pensar

E ainda exploram a história para mais tarde recordar.

E nós e os nossos filhos? Ninguém quer saber?

Cuidar da vida, mais do que um direito é um dever.

 

PAS

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Ironias

por PAS, em 23.02.11

A vida tem um quê de ironia.

Sem ter que se explicar, aplica golpes violentos ao destino, capaz de fazer duvidar a mais certa das almas.

E sob o mantra da escolha e do gesto humano limita-se a assistir ao desenrolar de um filme tantas vezes repetido e mais vezes ainda apagado.

A vida tem um quê de ironia, mas há vidas que são mais vidas que outras. Como este caso:

 


 

Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor

O fotógrafo sucumbiu ao arrependimento e suicidou-se. A opinião pública crucificou Kevin Carter, mas, 18 anos volvidos, sabe-se que a criança que parece prestar-se a servir de pasto ao abutre sobreviveu à fome e à guerra no Sudão.


Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos de sempre, com um "frame" icónico, um retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer.


 

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Falsa Poesia

por PAS, em 22.02.11

Escrevo para nada.

Escrevo para ninguém.

Deixo a pena correr pelo destino

Sem a chaga de um vintém.

Escrevo de revolta.

Escrevo sem sabor.

Não confio à mente próxima

Mais que um prenúncio de dor.

Escrevo para mim? Talvez.

Afinal sou quem sente o crivo

Que a pena sobre o papel fez.

Escrevo... Escrevo o vazio.

Palavras desconexas em rima

À procura de um corpo que ruiu.

Escrevo o nada.

E escrevo ninguém.

Pois nada é mais meu semelhante

Que a ausência de ser alguém.

Sobram estrofes de carisma,

Poucas que poucos entendem,

Suficientes para serem o sofisma

Para o falso poema. Amén.

 

PAS

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