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Lacrima

por PAS, em 27.09.13

caia uma lágrima
por cada dor sentida
nos braços de ninguém.
quebre-se um sorriso 
por cada mentira rasgada
do num diário de vintém.
que se verguem os braços
por cada arrepio roubado
pelos braços da inocência, 
e saia de mim a vontade,
paire por lado nenhum,
até encontrar a fórmula
que a vida me esqueceu.

caia uma lágrima
por cada choro contido
no deserto epidérmico,
e seque qual virgem fiel
no dissipar da primeira ruga
de peocupação obsoleta.
caia uma lágrima.
mas caia uma lágrima só.

 

PAS

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Dia Sem Pai

por PAS, em 29.08.13

19.Março.2013


A morte não nos vem todos os dias sob o mesmo signo, uns dias sugere-se no pensamento como um breve trecho que anuncia o que está marcado no nosso subconsciente desde o acontecimento, por outras alturas afecta a mente como o raio da descoberta e entorpece os sentidos como se a virgindade sobre a morte fosse perdida.
Hoje é dia de segunda fé. Acabrunhou-se-me o espírito com a recordação da ausência do meu pai, e o sentimento de injustiça que o momento revelou no passado feriu-me novamente. É quase tão injusta a ingerência no processo de quem escolhe quem fica e quem perece, como a ausência da sua memória no meu quotidiano. Patrocino, então, a doutrina de que não sofro o que devia, e por isso arrisco inflamar a minha posição ao cunho de “má filha”.
Nestes momentos de infortúnio, procuro compensar a devassa, com um turbilhão de sentimentos e eis que as recordações ocorrem qual montra de curtas-metragens, sem sentido, mas cheias de um alento perdido. Num instante vejo-o sorrir com aquele ar trocista que lhe marcava as feições como ninguém e ocorre-me a ideia o seu magnífico sarcasmo e piada fácil, uma herança que tento alimentar, uns dias com maior sucesso que outros. Noutro momento vejo-o de ar circunspecto, aquele semblante doto na circunstância, em que conseguia ser maior que mundo, à escala de uma pequena criança, que era eu. Vejo-o no sofá de perna cruzada, óculos rectos e gestos de mestre, um senhor da vida, eterno Xá no conhecimento e virtuoso na discussão, era um pai imenso à imagem de qualquer fado, qualquer ambição. 
Por isso digo, a morte não vem todos os dias sob o mesmo signo, pois hoje sugere-se diferente, na ausência da pronúncia, no vácuo da existência, enquanto uns cantam orgulhosos a felicidade paternal, em mim mora a angústia de nunca mais o poder dizer senão às paredes vazias do meu coração e esperar que num universo qualquer sobreviva um espectro, uma alma que o receba sem dor.

PAS

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Relógios

por PAS, em 19.04.12

tic-tac, tic-tac, tic-tac,
é o tempo e passa sem ti.
histórias que se escrevem
na tua ausência, indiscreta,
sob linhas de desconforto.
tic-tac, tic-tac, tic-tac.
continuo aqui, sem ti,
a dar passos sem rumo.
adormecida no tacto,
infel aos desejos de outrora.
tic-tac, tic-tac, tic-tac,
tic-tac, tic-tac, tic-tac...
um minuto, uma hora,
tempo imenso sem termo,
espero de ti um vislumbre
do último tic-tac em mim.

PAS (em tua memória - 23.03.2009)

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S Jobs

por PAS, em 06.10.11

 

 

Cresci literariamente a escrever num Mac, de écran preto e branco e muito sonhos a cor. 

Cobicei envergonhadamente o primeiro Ipod que vi, e só descansei quando pude chamar de meu um lindo nano, de alumínio, frio e minimal, que ainda hoje vive comigo.

Apaixonei-me desconcertadamente pelo MacBook e contra tudo e todos empenhei-me para que hoje pudesse escrever o sonho que um dia se tornou realidade. Hoje vejo o mundo online através de uma frame negra brilhante.

Não sou materialista - ao contrário do que este post possa demonstrar - e talvez por isso este agradecimento seja tão mais significante que qualquer outro que pudesse tecer.

Obrigado Steve por transformares objectos em sonhos e é com orgulho que hoje uso cada um deles.

 

PAS

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Adagio senza fine

por PAS, em 21.02.11

Eras encanto.

Singelas pernas, arqueadas

E tronco curvo bamboleante,

Teus pequenos braços, estendidos,

Pediam sempre o meu encontro.

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras coragem.

De cabelos ruivos, pelos ombros,

Beijavas flores, azedas, pela pradaria

Contavas entre perigos sui generis

Conquistas que o tempo fingia.

O teu amor, infância, era abandono.

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras drama. Eras fantasia.

A criança boleima virara alta e esguia.

Escrevia de letra e alma inocente

A dor que um tal de poeta carpia.

Ah jovem, filha de Eva e da serpente!

Souberas tu o que sei hoje.

 

Eras tristeza.

Cabeça queda a sonhar bizarria

Perderas a eloquência e a companhia.

Arrastaras pelos pés pesadelos

Que a mocidade confusa te devia.

E hoje sonhos? São noites sem vê-los.

Souberas tu da tua vida.

 

Eras tudo isso, serás tudo mais

O passado escreveu uma história

Caberá um final diferente aos demais.

 

PAS

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Metades inteiras

por PAS, em 15.02.11

Para quem tem dificuldades em assumir que na vida existem momentos, sinais, que nos recordam aquela arte, ou engenho, de outrora, este pedaço de prosa não lhe servirá propósitos. Mas não será iníquo tentar.

Estava no conforto do lar, a exercitar o ócio, quando a ouvi pela primeira vez, uma voz doce, de sotaque brasileiro, arremessava, em ritmo poético, pensamentos. Descrevia-se como se o mundo estivesse nele e depois ele no mundo. Desviei o olhar do laptop e concentrei-o na caixa de sonhos – que hoje se assemelha mais a uma folha consignada pela evolução – na televisão, exibiam-se ícones do tempo e estados, uns de graça outros nem tanto. Eram momentos de uma década marcada pelo assombroso discurso de uma voz, qual peregrina do tempo, que espelhava o mundo à imagem do seu âmago, ou quiçá, vice-versa.

Fiquei prostrada. Não era a melhor poesia que ouvira, nem tampouco algo meritório de causar uma catarse qualquer. Mas por obra da arte do autor e do engenho de quem montou a peça, tornou-se maior que tudo, e conquistou-me.

Voltei a ser surpreendida mais um par de vezes até me decidir pela investida necessária para desvendar o autor, o ritmo ocupava-me a mente e segmentos da poesia apareciam-me como fragmentos indecifráveis, procurei e inventei inúmeros métodos para descodificar o inventor: nada. Nada era o que surgia de retorno, como se o mundo quisesse esconder de mim a obra e o poeta. Até que a razão tomou a obsessão, que por esses dias parecia maior que tal mundo, e qual veículo da clarividência encontrou a solução.

Contactei o canal de exibição e perguntei, na minha ignorância, o nome do poeta que declamava poesia sob o signo de imagens de uma década, ao que tão delicadamente a SIC respondeu: Oswaldo Montenegro, pai do poema Metade.

Fez-se silêncio na minha alma, procurei agradecida pela Metade que Oswaldo consagrara ao mundo, e só a ouvi de novo quando encontrei o escrito na sombra dos meus olhos. Li e reli, voltei a ler mais uma e duas vezes, sempre com a voz do poeta a substituir a voz da consciência e a cantar palavras de mérito. A metade ficou completa.

Já a catarse? Perguntam-se, fica nas minhas quatro paredes, naquele quarto antes contado e jamais exibido. Mas de prenda deixo-vos um excerto.

 

(...)

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflicta em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

(...)


Oswaldo Montenegro, Metade

 

PAS

 

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Christmas Carol

por PAS, em 22.12.10

 

 

 

 

 

Queridos elos (Família, amigos, alguns conhecidos e certos desconhecidos),

 

 

Mais uma vez chega o momento em que a aura da época festiva se alia à índole de quem vos escreve, o sentimento não é exclusivamente natalício, há algumas mágoas, ora por razões pessoais, ora por motivos existenciais – ainda não acredito que o Steven Hawking afirmou que Deus não criou o Universo e as estrelas – mas deixemos as estrelas para os três indivíduos de capa e rumo a Jerusalém.

Como dizia a simbiose reforma-se e através de um gesto caligrafado apresta-se a acarinhar aqueles que sentem o Natal como despiste de todas as mágoas e o encontro com a fortuna dos que mais os querem; ou tão simplesmente para acicatar os ânimos agnósticos e “grinchianos” que reconhecem o Natal como veículo de consumismo, e anedotas sentimentalistas de todos os provincianos mentais.

A qualquer dos grupos deste parlamento desejo um dia feliz, com ou sem bolas decorativas, com ou sem presentes embrulhados de dobras perfeitas e laços esculpidos, com ou sem mesas de festa, bolos de chocolate, fatias douradas, mousses, frutos secos e sonhos... sonhos, com ou sem sonhos.

 

Pois deixem-me contar o que vejo no Natal.

Uma janela, salpicada de pontos brancos tão perfeitos que se assemelham a neve artificial, mas não, aquele quadro antagónico, de expressionismo minimal é de neve real. No seu interior sente-se o calor que quem espia não sente, uma mesa robusta e farta, composta pela comunhão do trabalho e dedicação de todos os que a rodeiam. Conversas e gargalhadas escondem ao tempo as ausências que o destino criou.

Não há crianças no espaço, apenas promessas de uma existência e desejos, muitos desejos. É verdade que o Natal não é o mesmo sem elas, mas creio ver na face de todos os meus cúmplices um olhar de infância, cunhado pela incerteza do desfecho e a expectativa desenhada no rosto pela descoberta do objecto a seu nome: ouro, incenso e mirra.

Pois deixem-me contar o que vejo no Natal. Vejo a luz que não sinto na maior parte do ano e sinto o alento com que a juventude me baptizou regressar com perspectivas de novos tempos e novas odes. Vejo esperança.

 

Antes de saudar, agradeço a todos os que este ano me proporcionaram um pensamento, a evocação de uma memória, um sentimento, uma ocasião, como dizia René Descartes: Cogito ergo sum, “penso, logo existo”; e vocês fizeram-me viva!

 

Feliz Natal e um excelso Ano Novo. Que a vossa austeridade seja no mínimo sempre assim (palavras de um sábio avô).

 

PAS

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Confissões II

por PAS, em 11.10.10

São 3 da manhã, é domingo, véspera de aulas... todos dormem, o silêncio vagueia pela casa como que perscrutando o medo, aquele medo que me acompanha e se deita comigo, o pânico. São 3 da manhã e levanto-me, não consigo dormir. Passeio pelo corredor, sinto um nó no estômago, uma dor inexplicável no âmago. Vou até à sala, ligo a televisão, encosto-me e espero que o nó se desmanche e a dor sucumba sob a magia de uma caixa mágica, mas o par permanece, olho para o ecrã e não distingo o que vejo... era como se uma tela se interpusesse entre o meu estar e o mundo, transformando tudo obsoleto.

 

Volto ao quarto, continuam todos a dormir, respiro fundo pela enésima vez: “Também quero dormir... eu não consigo dormir!” a mensagem passa pela minha mente repetidamente, como um tatuar frenético de uma visão impotente.

Abandono novamente o quarto, avanço pelo corredor, um olhar de abandono dirige-me, sinto o desespero a instalar-se e não compreendo: “O que passa comigo?”

O meu coração anuncia a adrenalina, dou mais uma golfada de ar... e depois outra, olho indiscriminadamente para as paredes à espera de uma resposta, o meu cérebro projecta probabilidades sob probabilidades, causas e efeitos, branco só vejo branco, olho para o relógio do meu Ericsson: 5 da manhã... a dor persiste o nó resiste.... “Ahhh quem é que me ajuda? Alguém me ajude...” continuei a vaguear até à cozinha, como se andar amortecesse a loucura, exaurisse a anormalidade do meu corpo, expulsasse a comoção, mas ela manifestava-se qual partida do destino ao ritmo pautado de cada passo dado. O escuro, as sombras assumiam agora os contornos da minha instabilidade, a noite tornara-se má conselheira e o medo, o pânico alimentavam-se dela. Senti-me encurralada pela minha loucura, pela minha mortalidade, pelo ser que já não era... olhei para a janela da cozinha e pensei como seria fácil acabar com o tormento se me entregasse ao vazio. Como seria rápido vergar-me ao destino e voar para a minha morte. Uma pancada fez-se sentir no meu estômago acordando a consciência adormecida, “Meu Deus, o que é isto?” afastei-me assustada da janela e com receio da minha ausência de compostura, liguei para o único lugar que concebia outro estar: CASA

Abro a tampa do telemóvel e ligo para casa, uma voz baixa e seca responde...Papá!

O que dizer, como explicar, nada fazia sentido: “ Papá, preciso de ajuda, não me sinto bem, eu não sei o que se passa comigo, não consigo dormir e... e não me sinto bem... por favor ajuda-me! Ajudem-me...”, soava a um mau filme de terror, de discurso desgarrado, do outro lado surgiam palavras de conforto, calma e racionalidade... Percebi que era ridículo, até para mim, naquele estado, pedir ajuda ás cinco da manhã a alguém – mesmo sentindo a pressão do desejo e da consciência– que estava a 30 km de distância. Chorei sem lacrimejar, senti-me exausta sem sono, morta com vida...

Vazia de apoio, cheia de sombras e medo, assumi que a solução residia na assunção da minha fraqueza e de partilhar a mesma com aqueles que desejava que não a conhecessem. Perder-se-ia para sempre a imagem indelével, confiante e forte que semeava, erigir-se-ia uma sombra da existência, do intelecto, um retrato frágil e caduco, sem reserva de orgulho. Era a cobrança necessária para sobreviver ao assalto da minha consciência. Viveria depois deste dia até vontade em contrária de um Deus qualquer uma semi-existência.

Fui à cabeça da cama onde descansava aquela que tinha por melhor amiga, esperei uns segundos, como que a permitir uma qualquer objecção ao acto, e acordei-a.

 

Neste minuto morreu parte de mim, sobrevivendo para memória futura uns resquícios de estar, qual nostalgia comportamental, a fazer lembrar o que fora e a não deixar esquecer o que era.

 

PAS

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Pretérito Imperfeito

por PAS, em 19.07.10

Fito esses teus olhos escuros,

Pequenos mas sábios.

 

Fitava.

 

Ouço a tua voz, grave,

Eloquentemente pausada.

 

Ouvia.

 

Bebo cada palavra expressa,

Cada trago, o conhecimento.

 

Bebia.

 

Conduzo a minha mente

Por sítios por ti navegados.

 

Conduzia.

 

Anseio pela tua atenção,

Com a urgência da existência.

 

Ansiava.

 

Aguardo o teu toque,

Agora e na hora da minha morte.

Aguardo.

 

PAS

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Confissões

por PAS, em 17.12.09

Acomodou-se em mim uma solidão...

- Que adeus!

Abandonou-me a inércia de sentimento

Que me protegia da infâmia do destino.

Quer pois a vida mostrar-me

Paredes vestidas de escuro, em luto,

Sem pontes de luz, ou som,

Que alumiem a oferecida escuridão.

E se por momentos abraço

O silêncio e a clausura... Adeus novamente!

Rompe-se no imediato a lágrima gélida,

A anunciar novo pranto.

São tempos difíceis os que me ocupam

Levam-me horas e desandam-me a mente.

Queira o futuro anunciar-me,

Novo capitulo, novo fado, brevemente.

 

PAS

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